ABOTOADURASGravura de Paul Klee
Fabrício Carpinejar
Não nasci para ser discreto. Por mais que tente não chamar atenção, passar invisível, algo acontece que faz virar as cabeças do mundo para o meu lado como uma partida de tênis. Lá estou eu entrando no elevador para uma reunião, engravatado e tal, tenho a mania de segurar a porta com as mãos, não acredito em botões, ponho meu braço como escudo e as pessoas vão entrando. Educação cumprida, na hora em que impulsiono meu corpo para dentro, percebo que o terno fica. A manga do casaco trancou na porta. Não há jeito de puxar. Todos começam a opinar, tentando encontrar algum objeto para aliviar a barra. Eu fico esticado, extremamente esticado, devo ter crescido uns dois centímetros com a musculação forçada. A compaixão inicial dos passageiros do elevador com a minha figura patética agrava-se em raiva do atraso. O riso dá espaço para palavras mais rápidas, até que um deles banca o bombeiro e abre a lata de sardinhas. Entrei em mim mais do que no elevador. É preciso muito desprendimento para não transformar a timidez em vergonha.
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