
Sempre cheguei atrasada. Nas aulas, no cinema, no médico, no salão. Em tua vida, não foi diferente. Se eu tivesse a consciência que agora descobri, me deixaria mais ao léu. Eu me reprimia quando ninguém cobrava, eu me deprimia quando cobrada. Hoje quero colocar a perna para te atrapalhar na troca de marcha. Quero escutar músicas para denunciar a minha idade. Quero levantar o braço para fora da janela e regrar o vento com a ponta dos dedos. Fazer uma escultura do vento.
Eu me esforço para esquecer as coisas, mas elas persistem em minha letra. A lista do mercado, por exemplo. Ela acaba sendo desnecessária porque a memorizo depois de anotar. O mesmo acontecia no colégio. Na hora da prova, não usava a cola, apesar de portá-la como pulseira de relógio. Eu demorava horas a repassar as lições em letra miúda, a fazer um rolo de respostas, e assim decorava os mínimos detalhes. Não consegui me transgredir. Amar é também não amar. Deixar algo intocado, algo para amar depois. Amar é violentar o próprio amor para que ele não se esgote cedo demais.
Beijos,
Aline
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