MULHERES
Fabrício Carpinejar
IV. Ela tem repulsa por livrarias largas, amplas, espaçosas. Acredita que o livro passa vexame, exposto como cachorro e gato dentro de gaiolas. Ela não entra em nenhuma livraria que não seja pequena como um quarto de fundos. Quer um bidê, um abajur e uma cama para ler. Pede só que o colchão seja de penas e que o livro seja de plumas, com o peso exatamente igual ao da mão de seu amante.
V. Ela não entra em bibliotecas. Acredita que o livro foi dissecado, aberto por um legista, com a ficha catalográfica atrás, denunciando os cortes depois da morte. Deseja cortes vivos, com sangue para alertar o tamanho da ferida e depois saliva para cicatrizar. Ela não entra em bibliotecas, fica irritada ao procurar os livros pelos códigos. Chama a obra pelo nome de solteiro. Não aprecia encadernações conservadas, mas as prefere amassadas, deduradas, denunciadas por beijos e língua. Ela não usa toalha em sua mesa, põe um livro como se fosse prato e come seu pão integral esfarelando o verbo. Suas páginas prediletas estão marcadas com farelos.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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