quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

7/26/2006 07:24:59 PM




SERÁ QUE NÃO FUI GRUDENTO?

Do Consultório Poético

Pintura/Colagem de Joseph Cornell

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Fabrício Carpinejar





"Olá, Carpinejar!


Pensei muito sobre escrever pra você, durante muito e muito tempo, pode ter certeza. Não tinha certeza se gostaria de ver a minha história exposta no blog de um escritor tão competente e conhecido. Além do fato de a personagem principal desta história ser leitora assídua dos seus textos. Mas é um risco óbvio que vou correr, mesmo sabendo que isso causará profunda contrariedade nela.


Falar dela é algo que me faz muito bem, sempre desperta minhas emoções. Ela tem 32 anos; eu, 20. Fui aluno dela, ainda na época do "colegial", e tinha uma admiração indescritível por aquela mulher tão linda e extrovertida, cheia de vida. Mas aos 16 anos esse tipo de reação é tão assídua que até desconsiderei, na época; mas guardei detalhes dela em minha memória, frases, sorrisos, e guardo-os até hoje.


Os anos passaram, eu a reencontrei no orkut. Antes disso, havia tentado manter contato via e-mail com ela, sem sucesso. Somente após muitos meses com ela em minha lista de amigos do orkut é que decidi tentar um outro tipo de contato: como homem, não como ex-aluno. Uma frase despretensiosa e irresponsável e que surpreendentemente foi positivamente correspondida. Passamos a trocar dezenas de e-mails durante o dia, era uma irresponsabilidade para ela; para mim era um sonho.


Era quase madrugada de uma sexta-feira qualquer quando o telefone toca e, ao ouvir minha voz, a pessoa do outro lado da linha desliga. Vi o número no bina, retornei: era ela. Foram 4 horas ao telefone e no dia seguinte, para minha surpresa, ela simplesmente pegou seu carro e veio até mim. Ao entrar no carro, antes mesmo que ela pudesse se manifestar, beijei-a. Passamos a noite juntos, e não tenho a menor dúvida em afirmar que foi a melhor noite da minha vida.


As semanas se seguiram, nos vimos mais duas, talvez três vezes, entre dezenas de ligações diárias, cada vez mais românticas, ela é uma pessoa romântica e eu sempre fui exageradamente romântico. Mas creio que acabei sufocando-a, e ela, dividida entre o crescimento de um sentimento com o qual ela não estava preparada para lidar - ela própria alegava ter preconceito com relacionamentos com tal diferença de idade - e o medo de se ver compromissada com um garoto "inconseqüente", afastou-se de mim.


Sofri muito, muito mesmo. Tentei não me envolver, mas não havia como, ela é fascinante, apaixonante, incrível. Hoje mal nos falamos, ela se afastou de vez, e eu ainda não sei ao certo o motivo. E às vezes sinto saudades demais dos momentos que vivi com ela, e, sobretudo, dos momentos que eu ainda poderia viver.


Um sonho, de fato. Tão breve e intenso quanto um sonho. Que gostaria muito de ter de volta, mas sonhos não se repetem...


Obrigado por ler minhas palavras. Você é muito competente no que faz, procuro sempre ler seus textos como inspiração aos meus."




Olá, Bruno!


Uma mulher começa o relacionamento imaginando seu final. O homem começa o relacionamento para retardar o final. É uma operação nem boa nem ruim; a mulher já projeta o filme desde o seu início; o homem pretende assistir pouco a pouco, o que torna meio inconseqüente.


Compreendo o seu sofrimento, mas vamos tentar esclarecer a situação. O namoro de vocês partiu de uma situação de admiração (professora-aluno). É evidente que a submissão inicial e a noção de proibido acentuaram a intensidade do encontro anos depois. Afinal, o desejo ficou em ti contido desde aquela época, aguardando uma chance de transgressão.


A diferença de idade não conta tanto, por mais que o preconceito estivesse evidenciado por ela. O que talvez tenha complicado o namoro foi uma ausência de expectativa e perspectiva entre seu mundo e o dela, sua atuação profissional e a dela. Ela não o enxergou como alguém autônomo e seguro. Era o passo seguinte para sustentar o envolvimento, para superar o comprometimento episódico e onírico.


Seu exagero romântico soou como um alarme de incêndio na casa dela. Será que você não pareceu irremediavelmente dependente? Nem nos damos conta quando ultrapassamos a cota. Há um limite entre ser um companheiro, que traz uma paridade, e ser filho, que pede controle e censura. Ela ficou com receio de adotá-lo e com vergonha social de continuar. Pode ser que o ame, mas amar significa não sufocar. Deve deixá-la à vontade inclusive para negá-lo. Assim ela terá condições de decidir e até voltar.


Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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