quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

7/16/2005 09:25:31 AM




CRÍTICA POSITIVA


Luís Augusto Fischer elogia "Como no céu/Livro de Visitas" (Bertrand Brasil, 2005), ao lado de "Memorabilia", de Susana Vernieri, e "Bodas de Osso", de Paulo Bentancur, em texto publicado no sábado (16/7), no jornal Zero Hora, caderno Cultura. O crítico analisa três novos livros no gênero. Repasso o que fala de meu lançamento.


"A nova publicação de Fabrício Carpinejar não tem nada desse tormento que Susana Vernieri bela e tristemente expõe. Para ele, a poesia é um espaço para dizer, não para hesitar ou lastimar. Não há nele a angústia, nem a da forma, nem a da expressão. Fabrício parece funcionar, em poesia, como uma antena à procura da frase de efeito, da imagem impactante, sempre posicionando a voz que fala em uma ética de pureza, genuinidade e verdade, com o poema sendo o depoimento de uma alma que não se deixou contaminar pelo cinismo moderno, nem pela hipocrisia adulta.


No volume atual são dois livros em um, Como no céu e Livro de visitas (Bertrand Brasil). Mas os dois, ainda que reciprocamente isolados pelo tema geral, dão a sensação de um mesmo magma transbordante. Não há página sem uma associação semântica em busca da vertigem, da tirada epigramática notável, candidata a figurar em antologia, como "Abro bem os olhos de cada palavra, / como quem pisa em telhas". Isso, mais o ar de narração, sempre presente em sua poesia, me parece ser motivo suficiente para seus livros estarem ganhando leitura e evidência: Carpinejar é um sopro de vida, de vivacidade, de pulso latejando."


("Poesia nova por aqui", Luís Augusto Fischer")





CRÍTICA NEGATIVA


Rogério Eduardo Alves castiga "Como no céu/Livro de Visitas" (Bertrand Brasil, 2005) no caderno Ilustrada, da Folha de SPaulo, no sábado (16/7). Simplesmente não gostou da obra e respeito sua opinião com todo o carinho. Em tempo: Rogério já exaltou minha poesia, como em matéria/entrevista sobre "Biografia de uma árvore": "as palavras do gaúcho Fabrício Carpinejar mergulham no estado vegetal estabelecendo um contraponto com a superficialidade e espetacularidade do agora."


Um dia para pedra, outro para o pássaro.


Carpinejar perde-se com "filosofia"

ROGÉRIO EDUARDO ALVES

ESPECIAL PARA A FOLHA


O que sempre chamou a atenção na poesia do gaúcho Fabrício Carpinejar foi sua inventividade narrativa. A maioria de seus livros conta com uma moldura ficcional como a de "Biografia de uma Árvore" (2002), no qual há personagens, como Ossian, e um tempo imaginário (a referência é ao ano de 2045). Quando o escritor enfraquece os elementos da fábula, entregando-se ao lirismo, seu texto desanda em uma desgastada "filosofia".


Se isso já era observado na antologia "Caixa de Sapatos" (2003), fica patente no novo volume, que traz dois títulos encadeados: "Como no Céu" e "Livro de Visitas". A combinação no avesso - os livros começam em faces opostas e se encontram no centro - traduz a atmosfera das duas partes.


Em resumo: os versos de "Como no Céu" registram as sensações de uma vida conjugal, suas delícias e agruras, enquanto o "eu lírico" do "Livro de Visitas" tem os olhos voltados para si mesmo tentando encontrar-se.


Assim como não há referências que justifiquem esses poemas como autobiográficos, não há elementos suficientes para delimitar um contexto fabular. As belas imagens deixam de fazer parte de um universo determinado para se constituírem como expressão da lírica amorosa.


Versos como "É necessário suportar a tristeza / para merecer a esperança", sem as balizas da narrativa, enfraquecem-se, lembrando mais os livros de auto-ajuda. Essa forma imperativa dos versos de Carpinejar, que se querem instrumentos de veiculação de sabedoria e reflexão, é apenas uma das características que podem ser identificadas na poesia contemporânea brasileira. No avesso, produzem-se poemas cujo objetivo está além das palavras escritas, como em "Visibilia", do paranaense Rodrigo Garcia Lopes, publicado agora em reedição ampliada (Travessa dos Editores, R$ 22; 94 págs.) do volume de 1997.


Enquanto conjunto de visualidades, os poemas adensam-se para registrar em imagens o impalpável. Entre o discurso que quer ensinar e aquele que age sobre a sensibilidade através da sugestão de imagens do irretratável, impossível estabelecer o mais poético, salvo pelo gosto do leitor. Nos vários caminhos da poesia de hoje, a única certeza é o medo. Medo de enfrentar com versos reflexivos o mercado e os paradoxos do país, variáveis que não cabem nas páginas que se desejam tecnicamente perfeitas, lacradas ao risco.

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Rogério Eduardo Alves é mestrando em teoria literária pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


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