quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

7/14/2006 07:55:13 PM




TENHO MEDO DE SER INFANTIL

Do Consultório Poético

Pintura de Marc Chagall

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Fabrício Carpinejar





"Olá, Carpinejar!


Eu sou novo no seu consultório e esta é a primeira vez que escrevo uma carta para alguém me ajudar no meu relacionamento, pois desde que conheci o seu fórum estou lendo e relendo todos os textos e gostando muito do conteúdo. Mas lá vai o motivo da "carta".


Bem, eu tenho uma namorada, já estamos fazendo seis meses de namoro. Não é muito tempo, eu sei, mas o problema é o seguinte, eu nunca namorei na minha vida e estou tendo várias crises em minha cabeça. Uma é por conta da rotina, eu gostaria de mudar os nossos programas e não tenho idéia de como fazer isso. Sempre quando penso que eu irei gostar, eu tenho certeza que ela não irá gostar porque somos muito diferentes. E outra coisa, ela é mais velha que eu, portanto, tem pensamentos além dos meus e sempre fico sentindo um certo tipo de pressão, entende? Ela quer demonstrar ser superior a mim por causa da idade. Isso me deixa um pouco triste e essa pressão me estressa. Tento ao máximo ser maduro e deixar esse lado moleque que eu sempre tive (para ela, é infantilidade). Eu não sei bem como agir em namoros, quando chega o fim de semana, por exemplo, fico sem jeito, na obrigação de chamá-la para algum lugar, fico impaciente, fico com receio de ligar 'Ei, tô indo para a tua casa, tá?' E se eu for esperar ela telefonar, nada acontece... Gostaria de saber: como eu devo agir nessa situação?"



Olá, Beto!


Não adianta bancar o mais velho - é o jeito mais rápido de ser infantil. Vejo sua preocupação em impressionar, que elimina a espontaneidade dos gestos. Está mais interessado em ser "o que pensa que ela pensa" do que em expressar as próprias fantasias. Vive emprestado. Abandona logo seu lado moleque. Ou seja, a alegria, a irreverência e o prazer. O preço é muito alto. Censurando as bobagens, sacrificamos também a criatividade.


Ninguém é superior pela idade. Se há arrogância ou prepotência de uma das partes, não existe amor, mas dominação.


Tudo é calculado, o que estressa. Sofre por antecipação. Não tenta adivinhar se ela vai se interessar ou não, diz de cara que ela não irá gostar. Não oferece a possibilidade de escolha. Decide por ela.


Experimente convidá-la para fazer seus programas. Ensine à namorada os seus gostos, os lugares que costuma freqüentar, as músicas favoritas, o enredo emocional de seus colegas. Assim como pode circular e aprender com o mundo dela. Pensamentos diferentes enriquecem a experiência e ampliam as afinidades.


Cuidado, dessa forma a passividade anulará seu temperamento. E não será nem o que a conquistou, nem o que ela desejaria que fosse. Numa relação verdadeira, agradar é ser sincero. Quem se esforça em ser sincero já está mentindo.


Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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