quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

6/6/2005 09:06:38 AM

O QUE ACONTECEU EM MEU RETORNO A CAXIAS:


JORNAL O PIONEIRO, CADERNO SETE DIAS

Caxias do Sul, 606/05, Edição nº 9199


Literatura


GERAÇÃO 90: CAOS E VIRULÊNCIA

Escritores e jornalistas encerram o Seminário Jornalismo e Literatura: A Fronteira entre os Gêneros


MARCELO MUGNOL


Foto(s): Ricardo Wolffenbüttel/Pioneiro



Escritores Fabrício Carpinejar, Marcelino Freire e Cardoso falaram dos meandros e labirintos da atual literatura brasileira em encontro na UCS, sábado



Uma bancada. Quatro escritores. Três deles discorreriam sobre o mesmo assunto. Um deles deveria ter encarado o personagem mediador. Resultado? O fim justifica o meio. E o início foi um prefácio à moda gonzo para jogar a platéia dentro do assunto: Tendências do Jornalismo e da Literatura - Caminhos Paralelos e Geração 90. O encontro de sábado encerrou o Seminário Jornalismo e Literatura: A Fronteira entre os Gêneros. Todas as palestras ocorreram na UCS, sob coordenação do Diretório Acadêmico de Jornalismo.


Os escritores convidados do último dia do seminário foram Marcelino Freire, Fabrício Carpinejar e Cardoso. E, como mediador - que assumidamente disse que não seria um mediador -, o escritor e professor Paulo Ribeiro.


Cada um dos três flerta com a literatura por um caminho diferente. Freire é contista, organizador de coletâneas e um dos olheiros da nova geração. Carpinejar é poeta e vem abrindo uma nova clareira nesse mato espinhoso da literatura. E Cardoso, que ainda não publicou livro algum, vem provando que a Internet não é a vala comum. Dessa mídia surge uma nova galera interessadíssima em ler e absurdamente ávida por escrever.


Na abertura da palestra teve de tudo. Freire leu um conto do livro Contos Negreiros, ainda inédito. Cardoso contou uma de suas histórias bizarras em recente encontro com estudantes. E Carpinejar recitou Fernando Pessoa andando pela platéia até o final apoteótico subindo na bancada.


Assim que essa euforia dissipou, veio à tona, enfim, o tema da palestra. Mesmo com essa mudança de rumo necessária, o bom-humor se manteve.


- Gosto de me aproveitar muito e inventar histórias. As pessoas não sabem o que é verdade e o que é mentira. Uso isso pra instaurar o caos e a confusão - revela Cardoso.


Já que se o assunto é confundir, é a voz de Carpinejar que pede espaço. Para o autor, o que a grosso modo se pensa e se escreve sobre poesia no Brasil é de ficar com raiva.


- Parece que é crime ser legível. Quanto mais inacessível, melhor - provoca.


Essa virulência de Cardoso, misturada à indignação do poeta Carpinejar, são bons exemplos dessa nova geração de escritores surgidos no Brasil recente. Ambos são jornalistas e estão preocupados com a proximidade com o texto, ora caótico, ora preciso. Em nenhum momento, entretanto, preocupados em "tornar o leitor uma pessoa melhor depois da leitura".


- Tem de acabar com a burocratização da prosa e da poesia. O escritor não tem obrigação nenhuma de melhorar a vida de ninguém. Quem faz livro pra melhorar a vida de alguém é escritor de livro de auto-ajuda - ironiza.


O resumo dessa breve ópera é que a geração de 90 abriu muitos caminhos. Escancarou portas. Rompeu barreiras. O uso que se fará disso, nem eles sabem.


- Escrevo coisas que gostaria de ler - argumenta Cardoso.


Aí está um bom guia dessa geração. Não há só eles, no entanto. Sábado, eles foram apenas os porta-vozes de uma galera que ainda precisa ser lida. E muitos outros que sequer lançaram suas obras. Pois, mãos à obra. Leia. Ajude você também a escrever essa história.

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