DAR OS OMBROS
Gravura de Marc Chagall
Fabrício Carpinejar
Não reclamo mais quando estou cansado. O cansaço se desculpa no meu lugar. Não há divisas de sombras, sigilo de céu. Sopro mais fundo como quem enche de ar as palavras. Não tenho vontade de mentir ou despistar. No cansaço, só há vaga para a sinceridade. A gente fala sem arestas, com o rosto inclinado e a pupila desequilibrada, deitando o ouvido ao primeiro colo. É como dobrar a boca para cigarras, ceder corpo para a cadeira, distribuir nomes nos bolsos dos casacos, cortar um retrato ovalado para pôr na carteira. O cansaço é dar os ombros. Quando lembramos que esquecemos de lembrar.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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