quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

6/23/2004 11:51:41 AM

PÃO VELHO

Gravura de Marc Chagall


Fabrício Carpinejar


Fecho a porta com os pés. Não existem pensamentos silenciosos. Os pensamentos já são vozes. Estou representando mesmo quando não me sei de cor. O corpo é uma roupa doada do mar. Ninguém convence o outro de suas feridas. As feridas perdoam o que não foi ferrugem. Quem não perdoa não se despede nunca. Perdoar é se despedir. Uma figueira na estrada não está perdida, está atalhada de pássaros. A chama não conhece pausas - tem medo de morrer ao parar de falar. Ainda pedem pão velho no meu edifício - pedir pão velho é esperança. O pão somente envelhece na boca. Meu inimigo interior me espera lá fora. Em algum momento, a vida se detém para se assistir.

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