Carla Rodrigues me entrevistou para seu blog no site No Mínimo. Confira.
TRÊS PERGUNTAS PARA FABRÍCIO CARPINEJAR
Poeta premiado, o jovem gaúcho Fabrício Carpinejar acaba de se aventurar no campo da prosa, com o lançamento de "O Amor Esquece de Começar", uma coletânea de crônicas. Aqui, ele fala sobre o lugar da poesia no mundo de hoje e alerta: "Confundimos o que é maduro com o que é podre".
Qual o papel da poesia no mundo contemporâneo?
Intrigar, provocar, emocionar e não deixar que a palavra seja somente palavra. A palavra é muito ambiciosa, acredita que é mais importante do que aquilo que nomeia. A palavra serve ao poder quando é no despoder que abrimos a guarda. Exerce hipnose de dicionário e enreda poetas na metalinguagem. A palavra é a vaidade de dizer, mas só existe porque o silêncio ainda não é paz. Sou desconfiado com a palavra. Um poema se faz pela falta de palavras. Quanto mais próximos chegamos do toque, do afago, mais estaremos dizendo.
Poesia é abraçar o invisível, aquecer o invisível para que ele se torne pouco a pouco corpo. Uma ausência aquecida já é carne. Poesia nunca se contenta em ser memória ou ficção, ela quer ser a ligaçäo entre as duas. Cultivo meus vivos como fantasmas, tudo o que eles fazem na minha direção é um milagre.
O que significa ser escritor num mundo em que as narrativas se fragmentaram completamente?
Temos o compromisso de reunir os cacos, varrer os cacos de vidro e montar outros objetos luminosos com eles. Talvez uma parede com porcelana quebrada ou uma mesa com asas de xícara. Nosso problema é que falamos como adultos e sofremos como crianças. Nossa língua não entende o que sentimos. Sinônimos demais. Empregamos palavras desnecessárias, que não são amadas, para preencher a fala. Com medo da repetição, mentimos. Para falar bonito, mentimos. O excesso serve para esconder a emoção, não expressá-la. A mentira é palavrosa, a sinceridade é quase lacônica. Melhor seria ter um repertório diminuto de criança, pois a criança usa todas as possibilidades de cada palavra antes de aprender outra. Nossa boca está pesada demais. Confundimos o que é maduro com o que é podre.
Você acha que a Internet vai mudar também a nossa forma de fazer ficção?
Já está mudando, tanto a ficção como a imprensa, que está aderindo aos blogs. Não há colunista que não expanda seu território para a virtualidade. Há uma maior variedade e espaço para o debate. Cartas são trocadas a todo minuto. Estamos mais opinativos, inventariando a própria vida em outras vidas e personagens. Meu único receio é que a leitura seja trocada pela informação. Estar informado não significa se aprofundar. Saber não é duvidar.
Vejo que os novos autores têm mais chance de mostrar seus trabalhos. As gavetas são públicas, não fechadas na madeira de uma escrivaninha ou de uma casa. É mais difícil morrer anônimo com a internet.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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