quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

5/3/2006 11:36:57 AM




A porta está aberta do Consultório Poético. Pode espiar. Não tive tempo de comprar um divã; sentar no chão é o começo da verdade. Coluna abaixo ou no site da Superinteressante.


BARBADO DE TIP-TOP


Fabrício Carpinejar





"Nunca vivi algo semelhante. Namoro há quase dois anos e vivemos na mesma casa. Eu o amo, e adoro a segurança que ele me proporciona.


No entanto, a paixão durou apenas seis meses. Uma vez ele estava cansado, na outra bêbado, e assim meus desejos iam ouvindo vários nãos.


Ele se descuidou muito, então. Engordou. O cabelo está uma grenha.


Com o convívio, ele começou a se soltar e mostrar quem realmente era: um porquinho.


Claro, o príncipe encantado virou um sapo! E hoje, apesar de ainda amá-lo, não sinto tesão por ele. Morro de vontade de fazer um amor gostoso, mas quando vejo aquilo...


Sei que é demasiado cruel. Já falei com ele sobre isso, mas ele não tem a intenção de ser diferente. Eu quem devo deixar de ser chata e ficar com ele como ele é."



Silvia


Ele oferece uma demonstração clara de desprezo e indiferença. Se não quer melhorar, eu diria de modo literal: "vá tomar banho".


Você não está sendo chata, mas tolerante. Onde já se viu: ele quer uma mãe, não pode aceitar. A hora do banho, a hora da comida, a hora de escovar os dentes, a hora de trocar de roupa, a hora de dormir. Só falta vestir o barbado de Tip-Top. Encontra-se obrigada a exigir o óbvio. Além de ser infeliz entre o cansaço e a bebedeira, ele pretende arrastá-la junto. Não é o caso de compreensão, de entender os problemas, já entrou na seara de higiene e saúde pública.


Seu namorado julga que deve amar do jeito dele. Não é suficiente. Com a convivência, aprende-se a amar de dois jeitos. São dois amores diferentes, que se revezam e se completam. Antes de dar amor, cabe respeitar o amor que se recebe. Não se ama do mesmo modo. Quando um amor anula o outro, ambos deixam de existir.


Ele acredita que a conquistou e não deseja se mexer mais. Ok. É machista, pois não valoriza o que pensa. Ok. Fez propaganda enganosa e durante a paixão mascarou seu desleixo. Ok. Tudo isso tem conserto. O problema é que ele não permite uma aproximação. Criou artifícios para impor o autoritarismo da sujeira.


Recomendo que passe a sair sozinha, toda linda. O ciúme o fará evoluir e se ajeitar. Voltará a ter medo de perdê-la e sairá da aposentadoria sexual.


Ninguém sentiria tesão em dormir com porquinho, com exceção de um personagem do cineasta italiano Pasolini. Aliás, tive uma outra idéia, pegue o DVD ou a fita "Pocilga" na locadora e o faça assistir até o fim. Feche as portas e não deixe ele sair da sala. O jovem do filme tem orgasmo apenas no chiqueiro. Será uma dura e necessária lição. Caso não surta efeito, pegue a vassoura e comece a varrer de vez a sujeira de sua vida.


Enviem cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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