ANOTAÇÕES SEM PAPEL
Da série NINGUÉM É O MESMO, MESMO QUE SE REPITA
Gravura Márcia Tiburi
Fabrício Carpinejar
A barba avança independente do que deixe para trás. Eu tive várias vidas mas não terminei nenhuma delas. O que sei serve apenas para me duvidar. Temos pouco tempo para nos entender, não entendo como sobra tempo para nos explicar. Deveríamos dar ao amor a mesma religião do ódio. Quem odeia vai toda hora visitar um nome. A primeira infância não é a primeira morte. Há datas que Deus nos paga a conta. Deus não chega com a dor, Deus é quando falta ar para rir. Escolher é desafiar a si mesmo a excluir justamente o que gostaríamos de dizer. Escrevo como quem mexe na horta. As unhas não lavam as mãos. A neblina é um rio que anda de barco. O mar sempre devolve o que não conseguiu engolir. A terra tem mais estômago. Sinto pena das árvores que são encontradas dias depois de sua morte. Elas cheiram os frutos que não germinaram. Não isolo o que vivi do que imaginei ter vivido. A poesia é a desistência de explicar. Eu dormi mais do que as palavras sonharam. A chuva vem para lermos a casa. Intimidade é conversar na mesa de café e apoiar o cotovelo em farelos de pão.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário