JORNAL ZERO HORA, SEGUNDO CADERNO
Porto Alegre (RS), 23/05/05, Edição nº 14518
Literatura
CARPINEJAR COMO PAI
Poeta gaúcho lança "Como no céu/Livro de visitas"
Um dos temas recorrentes do poeta Fabrício Carpinejar - trabalhado com maior ou menor intensidade, mas sempre presente em todos os cinco livros de inéditos - é a questão do posicionamento do indivíduo na equação da família.
Com a publicação de Como no céu e Livro de visitas (Bertrand Brasil, 204 páginas, R$ 29), o autor fecha um ciclo com uma constatação perplexa: seu próprio lugar na equação mudou.
- Sempre escrevi sobre a família, de um ponto de vista que privilegiava eu em relação a meus pais. Agora, também como pai, posso me ver em relação a meus filhos - diz o escritor, pai de Mariana, 10 anos, e Vicente, dois.
Como no céu/Livro de visitas é um livro duplo. Ou dois livros únicos. No sentido de leitura normal, a capa de Como no céu é um girassol amarelo, mostrando o lirismo solar de um livro que fala sobre a comunhão do casamento, a família como encontro, o amor físico, uma reflexão madura sobre a paixão.
A contracapa do livro é na verdade a capa de Livro de visitas - outro girassol, agora mostrado do avesso, talo sombrio em fundo escuro a ecoar uma poesia de versos curtos, densos, epigramáticos e que meditam sobre a tristeza, a finitude, as separações e as ausências. Um livro que perturba ainda mais por ser lido de trás pra frente, como se o leitor rebobinasse a voz do poeta enquanto vive a experiência de leitura.
Carpinejar vai autografar a obra no próximo dia 9, na Livraria Cultura, às 19h30min, com uma leitura de Mirna Spritzer. Um bom meio de ouvir os poemas de Carpinejar da forma como ele os cria. Em vez de rabiscar no papel, cada novo livro é composto pelo poeta em sua memória antes de passar para o papel. Um método original, mas arriscado, já que ele próprio admite que já esqueceu muitos poemas que havia criado.
- Minha poesia é um jogo com minha própria memória. Não é à toa que escrevi meus melhores poemas por medo de esquecê-los - define.
Poemas de Carpinejar
Penso ter vivido o
que escrevi
e deixo de viver
porque está escrito.
Minha letra não
torna meu
aquilo que anotei
de Como no céu
* * *
Já me viste rindo
nas fotografias?
Não adianta rever.
Sou mais fotogênico
na tristeza.
* * *
Arredondo os preços
por baixo,
para não causar
atrito
e inveja.
Me vendi por menos,
me comprei por mais.
de Livro de visitas
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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