quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

5/24/2005 10:43:29 AM

ALPISTE

Gravura de Henry Matisse


Fabrício Carpinejar





Quando recebo três perguntas, não respondo nenhuma. Eu esqueço da primeira com a terceira. Uma pergunta sempre responde a outra automaticamente. Nasci para assistir as perguntas e me deliciar com o intervalo da respiração. Bate-me a sensação que vivi mais do que a minha idade supõe. Será que me confundi e roubei outra vida no caminho? Tenho receio de falar a minha idade e alguém pedir para que devolva o excedente. Há em mim vida não usada? Ou toda vida vai sendo consumida na mesma hora? Ou só se vive o que se é exigido? E o que não é exigido não existe? Como descobrir onde sou capaz de chegar, se tardo em chegar para não acabar? Que o excesso de viver seja meu erro. Mas um erro imperdoável. Que me enterrem vivo, pois depois de morto poderei me mexer à vontade. As mãos quando amam têm a velocidade dos pés. Comovem o invisível a aparecer. Bebo vento. O vento é uma água mais longa. Desde criança, não dou comida aos peixes, dou comida para água. A água é também faminta. Quisera me familiarizar com as pedras a ponto de reverenciar as árvores. Quisera me familiarizar com as árvores a ponto de não duvidar do corpo quando se mostra em segredo.

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