quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

3/10/2006 03:23:50 PM




Consultório Poético segue de janelas abertas para os vizinhos. Leia coluna abaixo ou confira no site da Superinteressante.




MULHER MAIS VELHA E COM A OPOSIÇÃO DO PAI

Imagem de Peter Blake

Consultório Poético


Fabrício Carpinejar





"Fabrício, queria lhe contar minha história. Experimento um dilema em minha vida, tenho 22 anos e namoro há 2 com uma mulher mais velha que eu. Ela vai fazer 31 e meu pai é contra o meu namoro. Ele não pode me ver com ela. Estou profundamente apaixonado por ela, quase sempre parece perfeita, faz tudo que eu quero, e parece adivinhar meus pensamentos. Mas meu namoro com ela está se tornando monótono, não pode ir em minha casa, e quando vamos sair tenho que ter certeza que meu pai não está me vigiando. Muitas vezes, no começo, meu pai dizia para terminar com ela ou sair de casa. Sabia que eu não tinha condições para tomar essa decisão. Agora estou em um bom emprego e venho acabando de pagar minha moto. Terei condições de me sustentar, mas não sei o que fazer. No final do ano passado tivemos uma briga e ficamos algumas semanas sem nos ver, sofri muito nessa época, mas meu pai se demonstrava feliz em saber que eu não estava com ela. Desde que voltamos, ainda não percebeu e me trata muito bem. Por outro lado, tenho o apoio total da minha mãe e é o que me da forças para seguir com o namoro. No último domingo brigamos e estou sem ver ela há dois dias, isso parece muito para mim já que nos víamos praticamente todos os dias. Fabrício, desde que comecei a namorar com ela parei de sair com meus pais, e agora ele quer saber por que eu não saio com eles já que estou sozinho. Não tiro a razão dele pois se for pensar a longo prazo, se ficarmos juntos quando eu estiver com 32 anos ela já vai estar com 41, e é uma diferença considerável, tendo em vista que hoje somos jovens e ela não aparenta ter a idade que tem. O tempo não será bom para ela para sempre, já não sei o que faço, minha vida é uma tremenda incógnita, e essa situação começou a atrapalhar minha vida, já não tenho mais a mesma concentração que tinha antes. Amigo, me dê uma solução para o dilema, me ajude, o que devo fazer, seguir os conselhos do meu pai ou ouvir meu coração? Sou estudante, pretendo continuar meus estudos e fazer faculdade, o que iria ser difícil se eu não morasse na casa de meus pais, agradeço desde já sua orientação e aguardo sua ajuda."


Marcelo, não vejo problema em namorar uma mulher mais velha. Quando estiveres com 42, ela estará com 51. A diferença está em tua concepção de mundo. A proibição não vem do lado paterno, mas da restrição que estranhamente aceitou. Na realidade, o que vinga é a intensidade do envolvimento e ninguém de fora saberá avaliar.


As aparências não duram na intimidade. Eu verei minha mulher de um jeito mais absoluto do que o espelho. Estarei com 80 anos e ela com 84 e a reconhecerei com o rosto da primeira vez em que a vi. O que sustenta o corpo de quem amamos é a vontade de tocá-lo.


Velhice é se conformar cedo, é a covardia de não ousar. Sua velhice está acontecendo agora, quando poda suas convicções e barateia a liberdade.


A relação está monótona pois não permite que se vejam, que se encontrem. O tédio é a distância. É você que deve liberar a aproximação irrestrita, não impondo hora marcada e consultas prévias. A vontade de se apaixonar é maior do que os esconderijos. Nenhum relacionamento dará certo sem a entrega absoluta de ambos os lados. Pensa demais no futuro e estraga o caminho até ele. A relação pode durar dois anos ou cinqüenta, não importa o tempo do desejo, a largura do desejo, e sim a altura em que ele alcança ardendo.


Com uma possível separação, tem medo de que o pai diga: "eu tinha razão"? O que é a razão quando se tem desejo?


Há amores que nos ensinam a voar, há amores que nos ensinam a rastejar. Nas duas formas, estaremos avançando.


Fala o que pode perder, o conforto familiar, a segurança, a confiança paterna. Deve cogitar, entretanto, o que pode ganhar com ela. A leitura de seus pensamentos, o ânimo de voltar para casa, a cumplicidade sexual, a capacidade de reconhecer a alegria apenas com a audição.


Só podemos escolher se nos sentimos antes escolhidos. Ela o escolheu e espera sua contrapartida. Não pede paciência a ela, vem abusando e exige caridade. Já tentou enxergar como ela está se sentindo? Desprezada, inferiorizada pela sua família, acreditando que é a pessoa errada para freqüentar sua residência, que não o merece?


Não deixe que o preconceito resuma sua vida. Ficar com ela não significa renúncia a carreira ou aos estudos. Será mais difícil, mas não impossível. Aquilo que julgamos impossível nada mais é do que incompreensão. Compreendemos errado e desistimos cedo. No amor, a única paternidade que existe é a do coração. Somos apressados porque ele bate rápido.


Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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