quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

2/25/2006 06:15:41 PM

Correio Braziliense, Caderno Pensar

Sábado, 25 de fevereiro de 2006.

Coluna L2

Livros & leituras


POESIA À PAISANA


Paulo Paniago

paulopaniago@uol.com.br

Foto Renata Stoduto/Divulgação


Amor é um truque estranho, não avisa quando chega. O poeta Fabrício Carpinejar sabe do poder de envolvimento e perdição. Ou melhor, o agora cronista Carpinejar. Ele lança, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o primeiro livro de crônicas, O amor esquece de começar (Bertrand Brasil). Em "Meu quarto", uma das crônicas, escreve: "Podemos sair de casa há anos, e o quarto que abandonamos é conservado pelos pais. Não modificam uma vírgula de nossa letra". Carpinejar ganhou prêmios, entre eles o nacional Olavo Bilac. Foi traduzido para o alemão e tem contrato com editora francesa para publicar Cinco Marias (Bertrand Brasil). Nessa exclusiva para a coluna, ele fala da virada na escrita.


O que te levou a escrever crônicas?

As crônicas são extensão de minha poesia. O gênero muda, não o pensamento poético. Basta comparar o fio de cabelo do cronista e do poeta e verificar que é o mesmo criminoso (risos). Ninguém escreve poema para concordar, é para discordar. Crônicas são também exercício de negação ao lugar-comum. Sempre escrevi em meu blog http://carpinejar.blogger.com.br. Era pedido antigo dos leitores. Leio o leitor para me encontrar.


De onde veio o título?

O amor esquece de começar mostra que nunca percebemos o início do amor, ele acontece e já estamos dentro, sem regulá-lo. Quando se tem consciência, já é tarde, estamos amando como se fosse insuficiente um só corpo para abraçar e manter a pessoa perto da gente. Minhas verdadeiras amizades, meu verdadeiro amor, não sei ao certo como surgiram. O amor não tem data de nascimento.


Você é leitor de crônicas? Concorda que é gênero tipicamente brasileiro?

Concordo, é um jeito que o brasileiro descobriu para fazer poesia à paisana, contos à paisana, romances à paisana. É um golpe civil. Crônica tem uma superficialidade enganosa: por ser curta e de temas prosaicos, parece que é inofensiva. Sua profundidade reside no tom baixo de amizade. Sua agressividade é a ternura. Escrever crônicas é fazer amizades, contar segredos e confidências, é ajudar verdadeiramente as pessoas a não se conformarem.

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