Pinturas de Mary Cassatt
Fabrício Carpinejar


Mãe de criança pequena tem só uma hora de sossego. Não é ao dormir ou ao comer. É durante o banho de seu filho. Momento em que ela busca resolver as pendências e aspirar uma vida normal. Falei vida normal? Sim, mãe tem uma vida sobrenatural, categoria que inclui o pai que cuida sozinho dos filhos. Ler o jornal é um luxo. Poderia aproveitar a folga em que a criança cochila. Exausta, toma carona no cangote dela. Nem o Lexotan faria tanto efeito. O mesmo acontece de noite, turno que reserva para assistir televisão, mas apaga no primeiro comercial.

O excesso de trabalho a sufoca. O banho de seu filho acaba mais valioso do que o próprio banho. Ela o deixa brincando na banheira cheio de badulaques e bonecos e põe a falar ao telefone. São seus vinte minutos de descanso e independência, em que não precisará responder aos miados e apelos ininterruptos da casa. Quando está com o filho, ele vai interromper minuto a minuto para pedir ou perguntar alguma coisa. Na terceira ausência de resposta, solta um grito choroso que encabulará os animais da vizinhança.
O banho do filho pequeno é a melhor babá que ela é capaz de encontrar. Não precisa pagar, muito menos se sentir culpada. A criança estará feliz com seu talento para inundar o banheiro. Provocará um derramamento até o tapete da sala. Puxará o chuveirinho para baixo. Despejará o xampu na água. Comerá pedaços do sabão. Ainda brigará para sair, apesar dos dedos murchos. Nada disso importa. É o tempo que mãe avisa ao mundo que ela continua viva antes de retomar o leme e avançar de novo para o incomunicável alto-mar.
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