quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

1/20/2006 03:32:25 PM

O BANHO PREFERIDO DE TODA MÃE

Pinturas de Mary Cassatt


Fabrício Carpinejar




Mãe de criança pequena tem só uma hora de sossego. Não é ao dormir ou ao comer. É durante o banho de seu filho. Momento em que ela busca resolver as pendências e aspirar uma vida normal. Falei vida normal? Sim, mãe tem uma vida sobrenatural, categoria que inclui o pai que cuida sozinho dos filhos. Ler o jornal é um luxo. Poderia aproveitar a folga em que a criança cochila. Exausta, toma carona no cangote dela. Nem o Lexotan faria tanto efeito. O mesmo acontece de noite, turno que reserva para assistir televisão, mas apaga no primeiro comercial.


Vida de mãe é um sufoco, dedicação integral. Correu o dia inteiro atrás do pequeno, reorganizando os brinquedos, preparando as papinhas, arrumando a bagunça. Ela gasta metade do seu tempo para cumprir as refeições, trocar as fraldas e encaminhar as roupas e o outro tempo para limpar o que foi feito. Está suada, cansada e não existe intervalo de almoço. Come aos tropeços, com um prato apoiado nos joelhos, em vários reinícios. Perdeu a noção do que é comida caseira, com o paladar convertido ao time da comida requentada. Para ir ao banheiro precisa criar estratégias de segurança. Mãe não desgruda de sua vigília. Não troca guarda. Tente conversar com ela na praça. Dispersiva, dirá sim com freqüência às perguntas mais despropositadas, e olhará para frente, sempre, a controlar os andamentos infantis.


O excesso de trabalho a sufoca. O banho de seu filho acaba mais valioso do que o próprio banho. Ela o deixa brincando na banheira cheio de badulaques e bonecos e põe a falar ao telefone. São seus vinte minutos de descanso e independência, em que não precisará responder aos miados e apelos ininterruptos da casa. Quando está com o filho, ele vai interromper minuto a minuto para pedir ou perguntar alguma coisa. Na terceira ausência de resposta, solta um grito choroso que encabulará os animais da vizinhança.


O banho do filho pequeno é a melhor babá que ela é capaz de encontrar. Não precisa pagar, muito menos se sentir culpada. A criança estará feliz com seu talento para inundar o banheiro. Provocará um derramamento até o tapete da sala. Puxará o chuveirinho para baixo. Despejará o xampu na água. Comerá pedaços do sabão. Ainda brigará para sair, apesar dos dedos murchos. Nada disso importa. É o tempo que mãe avisa ao mundo que ela continua viva antes de retomar o leme e avançar de novo para o incomunicável alto-mar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário