quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

11/25/2004 10:16:25 AM

SAMAMBAIAS

Desenho de Mariana


Fabrício Carpinejar




As samambaias morrem de sede porque todo mundo pensa que alguém já deu água para elas. Estão no alto, girando como um telhado redondo. Um chafariz de vento. Eu me vejo como uma samambaia, ainda que a falta precoce de cabelos dificulte essa comparação. A samambaia não é uma flor, é uma música de fundo. Uma música que não se ouve, uma música apenas para não ficar sozinho. Uma música desligada. Significa uma planta de unhas compridas. As unhas ficam moles muito longas. Recomendável colocar esmalte. A samambaia não consegue encolher. Ela cresce quando morta. É uma planta casada. Bicho solteiro é o cacto. Desisti de cactos. O cacto bebe mais pedra do que água. Um aquário só vidro. O cacto é o hamster da vegetação, girando, girando em seu próprio lugar. Um dia ele cansa e bate a sensação de culpa de que não sei cuidar de ninguém, muito menos de mim. A samambaia lembra um cachorro, lambe o rosto quando chegamos, pula por cima dos móveis e se esfrega nas paredes. A samambaia é uma gaveta aberta, sempre quero empurrá-la. Pena que não entendi suas folhas como uma língua para fora.

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