quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

11/24/2004 11:17:04 AM

JORNAL ZERO HORA, POLÍTICA, COLUNA ROSANE DE OLIVEIRA, PÁGINA 10

Porto Alegre (RS), 24/11/04


SÓ POESIA


Para o bem dos seus leitores, o poeta Fabrício Carpinejar decidiu recusar o convite do prefeito eleito Ary Vanazzi para ser secretário da Cultura de São Leopoldo:


- Acredito que posso contribuir mais para a cidade na figura de poeta e criador. Escrever é uma responsabilidade social e vou colaborar com a cultura, sem cargos e interesses.


Carpinejar se ofereceu para ministrar oficinas voluntárias de poesia nas escolas públicas de São Leopoldo.


JORNAL VS, GRUPO EDITORIAL SINOS

São Leopoldo (RS), 24/11/04





Manchete


POETA ABRE MÃO DA CULTURA E OFERECE SUA VOCAÇÃO À CIDADE

Carpinejar, após muito balançar, recusa convite para secretaria de Vanazzi


O primeiro escalão do governo do prefeito eleito Ary Vanazzi (PT) não passou dez dias da maneira como fora idealizado pelo petista. Ontem, o poeta e jornalista Fabrício Carpinejar - um dos raros indicados que não tem filiação partidária - enviou ofício ao secretário de Planejamento da Frente Popular Humanista (FPH), Marcel Frison, informando sobre a sua decisão de não mais compor o governo na função de secretário municipal de Cultura. Ele justifica que "a contribuição para o município sendo escritor será maior". Por motivos profissionais, Carpinejar esteve em São Paulo e não pôde participar da reunião da FPH com a equipe de governo. Contudo, a ausência não está relacionada a sua saída.


Desde que havia sido convidado a integrar o primeiro escalão de Vanazzi, Carpinejar confessa que estava em dúvida se aceitaria ou não o cargo. "Não foi por falta de espaço, salário ou cargos. Se fosse isso, aceitaria de primeira. Mas, a minha vocação falou mais alto", confessa o poeta, que se utilizou de diversas frases de efeito para dar explicações. "Como gestor, eu deixaria minha produção engavetada na burocracia. Como poeta, penso na projeção da cidade", conclui Carpinejar, apostando na sua vocação.

"Ficamos tristes com a decisão, mas compreendemos, pois sabemos da repercussão nacional do seu nome, sua agenda intensa e os pedidos de aumento da produção literária. Mesmo de fora do governo, temos certeza de que ele será um dos nossos apoiadores", diz Marcel Frison. "O ambiente está supertranqüilo na FPH. Temos que retomar o assunto quanto a quem será o substituto. Por enquanto, não temos nome definido", analisa Frison. Segundo ele, era prevista a ausência de Carpinejar na reunião da equipe de governo realizada na segunda-feira. "Não houve comprometimento à atividade", finaliza.


COSTURA - Se nas versões públicas a negação rima suavemente com a vocação, nos bastidores a poesia é mais amarga. Carpinejar esperava assumir a secretaria com carta branca, mas na noite de 12 de novembro, minutos antes de Ary Vanazzi anunciar oficialmente os 23 primeiros nomes de seu escalão, foi surpreendido com informação de que duas diretorias de sua pasta já estavam comprometidas. Além disso, uma lista de propostas já tinha sido elaborada por militantes petistas estabelecendo diretrizes para a cultura em São Leopoldo.


O poeta estaria prestes a deixar a pasta sem ao menos assumir por falta de poder político. O mal-estar se prolongou no feriadão da República. Numa costura articulada por Marcel Frison, as propostas podiam ser ignoradas, mas os nomes o poeta devia engolir. "Obviamente que existiam projetos e pessoas do setor interessados em apresentar os seu trabalhos. Isto é natural. Tudo foi costurado, e a colaboração dada pelo Fabrício Carpinejar até o momento deverá ser aproveitada", justifica Frison. O poeta, que em seus versos demitiu Deus sem nunca tê-Lo contratado, ontem se demitiu, sem nunca ter assumido.

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