O CHEIRO
Gravura de Raoul Dufy
Fabrício Carpinejar
Nossas crianças crescem, têm filhos, casam, separam, nos esquecem, nos largam, voltam, retomam, desabafam, desabam, nos odeiam, nos amam. E o que fica? O cheiro delas. O cheiro de sua respiração enquanto dormiam no berço. O cheiro de seus cabelos suados quando acalmávamos a febre. O cheiro do pescoço no abraço repentino. O cheiro de seus joelhos esfolados, das folhas de figueira. Quando telefono para minha filha, converso com um cheiro impossível de apagar, de retirar debaixo da carne. Uma confissão que amei mais do que poderia viver. Paternidade é um cheiro. Maternidade é um cheiro. O cheiro não faz idade. É um mar que se mergulha mesmo distanciado a dez quadras. É mais do que uma palavra que não foi dita, é o cinto das palavras. O cheiro é mais do que um verbo e sua conjugação errada, é um nome. Um desenho sem chão porque a árvore se contenta em subir para o sol.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário