quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

9/24/2006 11:26:02 PM

DIÁRIO DE UM EX-FUMANTE: PRIMEIRA SEMANA

Arte de Tom Wesselmann





* Tive minha primeira experiência buscando parar de fumar em viagem. Obtive estrondosos fracassos.


* Era para ter fumado seis cigarros no sábado, fumei doze. No domingo, deveria insistir na meia dúzia. Foram oito. Uma carteira de cigarro em dois dias. A lareira continua acesa.


* O cigarro é meu modo de roer as unhas. Dependo dele para não me sentir deslocado. As espirais da fumaça formam a franja que não mais terei.


* Sofro ao não fumar em bar ou balada. Ainda mais com alguém suspirando fumaça em minha frente. Bolachas de chopp são cinzeiros sem fundo.


* Aliás, recomendo ao fumante lamber cinzeiros. Vai entender o que está virando sua língua.


* Quero beijar de novo meu beijo.


* É impossível parar de fumar na companhia do amigo escritor Flávio Moreira da Costa, ele dobra o cigarro com a pressa.


* O fumante culpa os outros por não fumar. Culpa a si mesmo por permanecer fumando.


* Tem vergonha de respirar sozinho.


* É um megalomaníaco disfarçado, engole suas palavras antes de virar pensamento.


* Fumar é tão bom quanto um desaforo. Só que o desaforo que cada um pode dizer para si mesmo.


* O que faço com meus bolsos vazios? Minhas chaves ficarão viúvas.


* Meu erro é a ânsia em substituir o cigarro. O cigarro me substituiu. Já é questão de vingança.


* O cigarro não paga meu plano de saúde, mas o justifica.


* O fumante não será convencido. É caso de conversão.


* Lembrei: comecei o vício por uma dor-de-cotovelo: quando a minha melhor amiga ficou numa festa com meu melhor amigo, que sabia que eu gostava dela. Comi um maço de Hollywood com o escritório fechado. Escutava Pink Floyd. Poderia dar certo?


* Não desistirei: largo o cigarro até 23 de outubro, meu aniversário.

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