quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

9/1/2005 11:26:28 AM

ENTUSIASMO OU SERENIDADE?

Pintura de Rufino Tamayo


Fabrício Carpinejar





Dante está apaixonado. Depois de uma noite com ela, mantém contatos pela internet e telefone. Tem medo de perdê-la, na encruzilhada entre exagerar na empolgação e mostrar indiferença. Não sabe como proceder daqui por diante. Ainda mais que ela diz que não deseja se apegar e aproveitar mais um pouco a vida de solteiro.


Meu amigo, seja natural para que ela possa conhecê-lo desde já. Se é apressado e eufórico, que continue assim. Se é sereno e paciente, siga o seu ritmo. Claro que a paixão atropela, exige, reivindica a proximidade. É um estado de exceção, não admite receita de comportamento. O corpo é o único na história que está atento.


Eu não sairia de perto. Não deixaria a relação esfriar em amizade. Insistiria com brincadeiras. Usaria o humor para revelar as verdades. Não daria tempo para ela fortalecer seus mecanismos de defesa ou se arrepender do envolvimento. Cuidaria, entretanto, para não pressionar. A teimosia se transforma com facilidade em chatice. E o chato é o feio por dentro, não há plástica possível.


Não vale a pena também bancar o sedutor e fazer estratégias. Pode até funcionar no começo, mas logo enjoa. Ninguém gosta de premeditações, o crime fica mais grave e a pena mais longa.


Espera a reação dela, escute com infindável interesse, devolvendo cada palavra, cada mistério que ela confidenciar. A mulher adora ouvir que você está a ouvindo. É simples. Pode falar pouco, desde que a ouça com a ultra-sensibilidade das baleias (é uma metáfora, não estou o chamando de gordo).


Na paixão, nada de treino. É perigoso jogar tênis com a parede e ainda perder. A ansiedade, o balbucio e o nervosismo colaboram para a intensidade. Quando ela comenta que não quer se envolver ou gostaria de curtir a liberdade é um sinal de que ela quer se envolver e deseja que amplie a liberdade. Leia o contrário. Não é uma censura e impedimento. Ela testa sua intenção. É uma forma de perguntar se está disposto a ser verdadeiramente feliz. No momento que vocês conversam ao telefone, quantas vezes se despedem? No mínimo, umas cinco vezes, né? Pois se despedir é um convenção. Modo educado de não atrapalhar. Não é para desligar, é para começar outro assunto.


O curioso é que as pessoas se aproximam pelas afinidades, porque são parecidas. Um festeja o gosto em comum do outro, como se fosse questão do vestibular. Mas aviso que são as dessemelhanças que confirmam a convivência e estimulam a atração. Quanto mais respostas diferentes entre os dois, mais poderão aprender novas perguntas.


O "Consultório Poético - para complicar o que já estava complicado" recebe colaborações. Pode mandar cartas com suas dúvidas de relacionamento. Tentarei responder aqui ao longo da semana. E-mail: carpinejar@terra.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário