quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

8/31/2006 10:13:30 AM

FRANK JORGE


Infelizmente, Frank Jorge deixou a Secretaria de Cultura de São Leopoldo. Escrevi uma carta para o prefeito Ary José Vanazzi. Reproduzo:


EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO OU SR. VANAZZI


Fabrício Carpinejar


Meu caro prefeito Ary José Vanazzi: não posso me omitir e não me espantar com a falta de ambição na cultura. Ambição não é ruim caso não vire arrogância, caso não vire prepotência, caso não vire a vontade de decidir sozinho.


O sr. abriu a primeira Secretaria de Cultura do município, o que, convenhamos, mostra sua boa intenção. Mas ela tem somente atuado como um departamento, mantendo o que já existia nas administrações anteriores. Ainda giramos em torno dos mesmos encontros: São Leopoldo Fest, Carnaval e Feira do Livro. Sei que não deve ficar feliz em ser comparado com a administração anterior nesta área, porém, é inevitável. Onde anda toda a experiência adquirida com sucesso pela Administração Popular de Porto Alegre? Onde andam os projetos alternativos, prêmios de incentivo à leitura, captação de projetos junto ao governo federal? Onde anda a arte e a intelectualidade que iriam revolucionar a mentalidade administrativa, recuperar o prédio da Biblioteca Pública, criar um teatro e uma casa com oficinas? Transcorreram dois anos e não localizei.


Lamento que toda individualidade que surja dentro da Secretaria esteja saindo. Foram mais de dez funcionários que largaram o barco. Alguma coisa está errada. A desculpa dos demissionários é recorrente: incompatibilidade com a direção.


Ou a cultura não é um trabalho em equipe? Não posso culpar o sr., sei que tem feito uma excelente administração em outros setores. Por exemplo, finalmente meu filho tem uma praça de brinquedos. Estou falando da cultura. A cultura ainda é uma peça decorativa. Parece feita para o secretário aparecer em fotos nos jornais.


O sr. deve saber que Frank Jorge largou a Secretaria, exercia o cargo de diretor. Iniciava a descentralização cultural, a partir das muambas e grandes eventos. Não senti nenhuma resistência a sua saída. Se não o conhece, um dia deve ter cantado "Amigo Punk" involuntariamente em seu carro. Além de um grande músico e poeta, Frank Jorge é um mobilizador da cena urbana, criativo e incansável, segurava a produção dos eventos, refinou a programação artística, ampliou o espaço de debates. Ele ansiava ficar: ama São Leopoldo como quem nasce pela segunda vez. Alegou divergências com o modo de condução da gestão cultural. É o momento de parar e perguntar: quais as divergências? Queria descobrir. Pode me dizer?


Frank Jorge já coordenou a Usina do Gasômetro, montou festivais, dirigiu e apresentou o programa Radar da TVE, impulsionou o Sarau Elétrico na capital. Não é uma figurinha difícil de conviver. Pelo contrário, amável, generoso e sério. Escolheu a discrição enquanto o secretário tomava para si a glória.


Desejo dizer, sem medo e afetação, ele é e sempre será meu secretário de Cultura. Nunca precisará fazer um abaixo-assinado para mostrar sua importância. Não precisará ter um CC 6 ou bonificações para ser respeitado. Ele não depende de mim ou do senhor para ser lembrado.


Chego até aqui para repetir que a ambição não é ruim quando não é pessoal ou carreirista. A ambição de Frank Jorge é pela cultura. Uma ambição pela diversidade. E não posso aceitar que tudo está bem se ele não está mais conosco.


Faço um pedido: não mantenha seus secretários pela amizade. Mantenha seus secretários pela competência.

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