quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

8/12/2005 09:46:03 AM

PETER PAN COM GANCHO NA MÃO

Pintura de Francis Bacon


Fabrício Carpinejar





Abro o jornal. Delúbio Soares diz: eu errei. Duda Mendonça diz: eu errei. Marcos Valério diz: eu errei. José Genoíno diz: eu errei. Roberto Jefferson diz: eu errei. Lula logo dirá: eu errei. Todos choram no velório da verdade. Alguns choram de rico diante da câmera, a maioria chora endividado em frente à televisão. Fecho o jornal.


Infelizmente não estamos brincando do jogo dos sete erros, a conta dos erros passou longe desde o começo da CPI dos Correios. Pode ser batizado de jogo dos sete acertos. A complexidade é descobrir ao menos sete virtudes dos depoentes.


O Congresso lembra um jardim de infância, crianças engravatadas arremessando culpa aos seus colegas. Pede-se desculpa para aliviar o castigo. Ninguém quer crescer ou assumir as responsabilidades. Rouba-se com o cinismo de um adulto, mente-se com a ingenuidade de uma criança. Peter Pan com gancho na mão.


Será que neste país ninguém acerta? É tão difícil não adotar o caixa dois? (Ah, já sei a desculpa, é que o caixa dois não tem fila). É raro não enriquecer na política, não tomar dinheiro informal para a campanha? É normal desviar recursos ao exterior, receber pagamento e não questionar a forma?


Lamento Ortega e Gasset, mas o homem é sua circunstância menos ele. A honestidade que deveria ser orgânica e corrente é quase um milagre no governo. Agora fico com vontade de votar em gente honesta, nem me preocupando se é competente, tamanha a falta de opção. Ser honesto é hoje a exceção, um item a adicionar no currículo. A cena se assemelha a marido apanhado em flagrante traindo a esposa. Ele desabafa que errou porque foi pego no ato. Se ninguém o visse, continuaria traindo. O problema não é a infidelidade, e sim o desprezo, o descaso com quem se afirmava amar.


O respaldo confortável da impunidade é o que mais me irrita. A invisibilidade ilícita. Tudo bem mexer no nariz no quarto. Tudo bem cutucar a orelha no elevador vazio. Tudo bem soltar fedores estando sozinho no carro. Mas furtar o bolso do contribuinte, em uma época de severidade tributária, é imperdoável. Confessar o erro não diminui a raiva, não traz desculpa. Confessar com a boca o que os olhos já viram apenas democratiza a culpa no corpo. Quebra-se a confiança e a lealdade. Não há esquecimento que cicatrize.


Não mereciam isso os eleitores e a maioria dos filiados do Partido dos Trabalhadores, políticos que não roubaram, muito menos aceitaram acordos financeiros para votar projetos.


Vocês não erraram. Não é um erro, é um crime.

Nenhum comentário:

Postar um comentário