Texto de apresentação do livro Todas as festas felizes demais
Fabrício Carpinejar

O livro começa com uma promoção de venda de vida na Terra em pacote turístico, onde é possível escolher "ser homem, mulher e mais dois sexos totalmente exclusivos". As ironias reinam em mundos de fachadas, vitrines e maquetes, em que o falso é verdadeiro. Num velório, o homem se despede de sua mulher com a raiva de perceber que não era o único que a amava. O velório logo se revela um ritual bem diferente. A gratuidade decorre em apanhar os pensamentos das pessoas mais do que os fatos. Em outro texto, a mulher acorda no lustre, o homem no armário. Tudo muda de repente: os cômodos, o número da casa, o bairro e, inclusive, a cidade. Igual a cenário de programa de tevê. O autor abusa do livre-arbítrio para mostrar o desespero cômico por dentro dos relacionamentos. Aliás, os casais são suas vítimas prediletas. Joãozinho troca de identidade para conquistar uma guria. Antes de ir a um batizado, par amoroso, desavisado do destino que o aguarda, discute se deve ou não ter filhos. Em "Encontro", o escritor expõe namorados mergulhados na indefinição, que costumam responder uma pergunta com outra, tipo "Você gostaria de ir lá?" com "Por que não?". Quem não se viu como cobaia da impotência numa ratoeira parecida?
"Se algumas almas nascem por equívoco", essa obra de estréia apresenta a história secreta dos erros, ilusões e projeções afetivas. Talvez você procure informações sobre a idade do autor na última página ou na própria orelha. Esquece. Deve-se perguntar a idade ao texto. E o texto vai se mostrar bem mais maduro do que imaginava. Fabio Danesi descobre que o problema da festa é que ela deu certo. Foi feliz demais. "A vida é o único produto cujo preço é seu consumo."
Todas as festas felizes demais
Fábio Danesi Rossi
Editora Barracuda
96 páginas
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