quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

7/7/2004 11:02:45 AM

PASSA-PASSARÁ

Da série DIÁRIOS DE UMA VIAGEM POR VOLTA DA BOCA

Gravura Klimt


Fabrício Carpinejar





Não há pressa para a esperança. O rio estica sua árvore a secar. Cisco a mata das roupas, colhendo cipós e amontoando a lã pelos cantos. Separo os cabelos emprestados, formigas nadando no açúcar. Deixo a gola lisa, raspo o que não é fio em fila. Giro os botões como alguma maçaneta travada. Penso em meu irmão menor, na sua alegria até os dez anos. Desenhava, ria e corria como uma escada entre um telhado e outro. Depois se calou, entristeceu, ficou sério. Terminou adulto antes da infância. Um dia a infância volta para devolver o que não foi usado. Os objetos também têm memória. Eles nascem depois de acabados. Um sapato, quando velho, é realmente um sapato, sem calos, sem o cinto das meias, moldados para a preguiça. O dia hoje oferece um sol de aquarela. Vou dormir de novo para me fazer difícil para a luz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário