quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

7/1/2004 10:33:59 AM

"EU TAMBÉM"


Fabrício Carpinejar





Estou escrevendo aqui enquanto penso na mulher no trem que colocava os óculos para tossir. Não entendia os motivos de seus curiosos movimentos em alçar o par de garrafas para sua gripe. Os óculos são algemas dos olhos. Cão que nos faz ver o que na verdade não precisamos enxergar. Mas eu queria dizer outra coisa, que vivemos em tempos tão lacônicos que respondemos quase tudo com "eu também". É assim: "Eu te amo", que logo é completado com "Eu também", alguém diz que gosta de "comida japonesa" replica-se "eu também". "Eu também" não é uma afirmação, e sim uma fuga, uma incerteza educada, que cabe em qualquer contexto e não diz nada, não incrimina ninguém, não confessa ou se expressa. "Eu também" não significa "eu te amo", não significa "eu gosto de comida japonesa", significa um sim de quem não está escutando, um "é verdade" de quem pensa em outras urgências. Em situações de trabalho, quando todos se divertem em ouvir tuas conversas telefônicas, é claro que falar "eu também" é uma forma de se salvar da comédia de afirmar a sentença "eu te amo", onde todos vão rir e cair em tua cabeça. Mas será que não estamos exagerando e deixando os amores entre lacunas, com medo de se comprometer? A falta de palavras não deixa de ser uma palavra.

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