O PÃO É O NOSSO GARFO
Fabrício Carpinejar
Mariana buscava um por um de seus bonecos e bonecas e fazia um varal na cerca da horta. Os repolhos, os tomates, a hortelã se levantavam para espiar o alarido dos tecidos. Suas crianças eram estendidas pelos cabelos e conversavam alvoradas de lã. Com olhos debruçados de frente, debruados. Uma ciência do vento. Concentrada, nada a dispersava antes de cumprir o fio de suas fábulas. Enovelava as tranças e as pequenas roupas, os panos de prato, o que havia sido negado pelo armário e recebido como aniversário fora de hora. Abria cada prendedor com a insistência adulta dos dentes. "O sol das lajes, o sol das lajes", ela dizia com pressa, como que reclamando mais espaço dentro da fruta, do pátio, da memória de seu pai. Em casa, o pão sempre foi o nosso garfo.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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