quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

6/6/2004 08:55:55 AM

POEMA ANÔNIMO

Gravura de Ben Nicholson


Fabrício Carpinejar





Ainda tensa, soltaste as mãos,

o sêmen.


Teu corpo saltou da terra

do meu corpo.


Recolheste as roupas e o silêncio.


Fiquei ali,

anfíbio acordado na cegueira,

dormindo a claridade da pedra.


Minha solidão

nunca mais seria a mesma.

Minha solidão

nunca mais teria filhos.

Minha solidão,

um ventre masculino.


Eu te morri.

Evitei chorar.

O cão lambeu meus olhos.


Não consegui recobrar

a rima de tua cintura

como um verso que insiste

em mudar.


Mesmo manchando o livro

dos teus lábios,

mesmo calçando tuas mãos,


serás sempre

um poema anônimo.


(coleção 5 minutinhos, eraOdito, 2002)

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