quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

6/14/2004 10:00:58 AM

DESANDO A RIR

Gravura de Jean Cocteau


Fabrício Carpinejar


É difícil explicar uma alegria. É fácil explicar uma tristeza. Uma alegria é descoberta. Tristeza é invenção. Queria dormir como uma criança que não quer dormir. Há dias tão cansados que me escapa o sono. O rosto de quem dorme demais é o mesmo rosto de quem dorme de menos. As olheiras são fundas como um convés inclinado. Quando não penso, desando a rir. Amar um corpo não é deixar acontecer, amar um corpo é concentração. É procurar no corpo o que o corpo não vê. É enxergar onde a respiração se repete em música. Ser natural é mais do que ser espontâneo. Ser natural é esquecer. Ser espontâneo é tentar esquecer. Existir é uma violência. A gente escreve para existir menos. Ao escrever, a gente escolhe. Ao existir, a gente é escolhido. Ter consciência não me fez mais prevenido. Minhas mãos são joelhos sentados. Não sou o que aprendi. Sou o que falta aprender.

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