quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

6/1/2005 09:58:48 AM

JORNAL DO BRASIL, CADERNO B

Quarta-feira, 1º/6/05



Livro:



RITMO TENSO E PRECISO

Poeta inquieto e inventivo, Fabrício Carpinejar lança livro duplo



Marco Lucchesi





Fabrício Carpinejar é um poeta que não deixa dúvidas sobre a sua inquietação. E dela tira proveito para os livros de poesia, bem como para o silêncio em que flutuam seus versos. Silêncio em que se adverte o rumor de fundo dessa busca desprovida de resultados, que não os de ordem poética. A nostalgia de algo tão intangível como seria o Santo Graal para os cavaleiros errantes. E se Fabrício, porventura, tivesse nascido na Baixa Idade Média, ele havia de sair à busca do sagrado cálice. Hoje, contudo, o empenho se volta para o cerne da palavra, e com o seu próprio sangue, se isso ainda fosse plausível. Mudaram os tempos. E o Graal tem novas e mais diversas formas de ser e estar.


O que mais observo neste novo livro de Fabrício é a liberdade com que aborda suas comarcas e províncias. E o modo de as percorrer, com um ritmo tenso e preciso. Suas metáforas vão se tornando mais amplas, como se dramatizassem uma espécie de comovente e bem dosada egorragia - como se disse de um pensador alemão. Uma personalidade que se potencializa nos mais diversos aspectos e quadrantes. Mas não estamos dentro de uma lírica fechada às demais considerações que se afastem das próprias digitais. A idéia de um eu tentacular se resolve em termos de uma sensibilidade que demanda o universo. E Fabrício possui uma variedade de imagens que parece não ter fim. Alguém diria ser a sua obra marcada nitidamente pela imagem, por uma espécie de teia, que por sua vez recria outras e mais intensas imagens, em que se movem as sombras luminosas que o habitam, além dos ventos da angústia que varrem o seu canto.


Sei que por diversos motivos a poesia de Carpinejar me comove, de modo especial. E não saberia escolher uma razão aparente ou determinante para esse estado de alma. Talvez porque - admitamos que ele seja um músico; um pianista, digamos - eu observe atentamente a mão esquerda, o acompanhamento grave, e não me deixe levar por uma série de pianismos refinados e efeitos do virtuose. Vou atento ao ritmo interno. À clave mais baixa. E percebo a nobreza tímida, feroz e generosa que permite à mão direita suas oitavas e acordes sonoros.


Talvez aqui se radique a minha alegria com mais este livro do poeta - sem instrumento que não seja o verso -, do músico sensível e aberto.


TÍTULO

Como no Céu e Livro de Visitas

AUTOR

Carpinejar

EDITORA

Bertrand Brasil

PREÇO E PÁGINAS

R$ 29/224


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