quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

6/1/2004 09:49:42 AM

PAREIPARAPENSAR


Fabrício Carpinejar


Recordar é perdoar. Insistir é perdoar. O fogo não faz sombra. Eu conversava com as árvores como se fala com gatos. O mesmo homem que sou não é o mesmo que sofreu. O vinho já nasce viúvo. Uma amiga me disse: "tu sabes o quanto eu admiro o teu trabalho e a tua maneira de ser, ou de não ser, sei lá eu... Esse teu jeito em linha reta não é pra qualquer um não.. A pessoa tem que se acostumar. A próxima vez que a gente se encontrar eu tomo um fôlego antes!" Meu primeiro amor foi a fonoaudióloga, aos 7 anos. Trocava o erre pelo l. Estava corrigindo minha fala até descobrir que ela era casada. Descobri que ela era casada no dia de seu aniversário. Fui arrumado, de gravata borboleta. O marido dela usava barba. Quis usar barba. Cortava meu cabelo com tesoura de unha e grudava com cola na cara. Meu pai confundiu aquilo com teatro, era tudo menos teatro. Larguei o consultório e as revistas da sala de espera. Não quis mais ir. Sou mesmo um exagero, não noto a franqueza, a linha reta. Minha honestidade é não saber o que sei. Eu acreditava que havia curvas na poesia, mas ela é direta. Ela bate onde há possibilidade de tambor. Cava onde há possibilidade de terra. Empilha a lenha para farpar a mão. Não espero, me desaforo de alegria.

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