VALE-TRANSPORTE
Gravura de Rufino Tamayo
Quando ponho camisa listrada, fico com jeito de piá. Não adianta o cavanhaque. Eu corria para tomar o ônibus. Eu estava sempre atrasado uma quadra para pegá-lo na saída da escola. Via o ônibus laranja, também de camisa listrada, e me atirava a correr e atropelava as turmas 101 e 102, que andavam devagar para o almoço. Naquela manhã, o ônibus se antecipou ainda mais, estava quase fechando a porta quando entrei, fechou a porta quando entrei. Não entrei. Permaneci com metade do corpo dentro e a outra metade fora, se é possível dividir meu corpo. A borracha tinha gosto de sapato. Balançava com a minha pasta e gritava: - abre, abre. A parada lotada ria do inesperado surfe, as meninas que eu pretendia namorar, os guris que pretendia bater. Eu balançava com a mão direita no gancho e com a esquerda esmolava ajuda. O motorista não ouviu, o cobrador pensava no troco. Fui prensado pela sanfona no percurso de uma parada inteira na Osvaldo Aranha. Quando tudo parou, só daí percebi que havia tomado o ônibus errado. Voltei para a casa a pé. Até hoje não cheguei.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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