quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

5/21/2006 10:06:35 AM

MULHER MACHISTA

Desenho inédito de Márcia Tiburi


Fabrício Carpinejar





Repare dentro de si e, subitamente, descobrirá um vírus silencioso nos costumes, que engolirá sua vida lentamente. Um vírus que fragiliza o sistema nervoso e vai perdurar por várias gerações. A doença nem é famosa, não terá campanhas de combate e prevenção. Está disfarçada na linguagem, difícil de ser diagnosticada e que é transmitida somente pelo homem.


É o HMM - o machismo na mulher. Não há nada mais melancólico do que uma mulher machista.


Uma mulher machista será uma mãe que nunca ficará satisfeita com a namorada de seu filho. Nunca. Não por que deseja o melhor para ele, é que perdoará seu filho mesmo quando ele não tem razão e indiciará a menina por aquilo que ela não fez de errado. A namorada será eternamente a culpada, não prestará apesar de contar com toda razão. A mãe comentará as suas amigas que ela não servia para seu filho e esquecerá de esclarecer que ele a traiu. É óbvio que o sujeito encontrará o respaldo para continuar aprontando no futuro, não recebeu advertência ou uma conversa sincera. Descobrirá na tutela materna o paraíso da impunidade moral. Afinal, ele erra e quem recebe o castigo será sempre a sua parceira.


Cômodo, a mulher machista é mais machista do que um homem machista. Não se preocupa em mudar, confia que o machismo é exclusividade do homem e está longe de ser infectada.


A mulher machista é uma esposa que não culpará o marido na infidelidade. Tolerante com ele, intransigente com a outra envolvida. Se o companheiro for infiel, soltará os cachorros na amante. Gritará que ela está roubando seu homem. Chamará a amante de "piranha", "puta", "vadia". Capaz de telefonar para ameaçar que fique longe dele e não destrua a sua família, capaz de preparar um escândalo e puxar os cabelos dela. Na verdade, faz vista grossa. Foi o homem que seduziu, que deu o primeiro beijo, que convidou para sair, tirou a aliança para despistar e bem depois avisou que era casado. Como a mãe machista, ela defende seu homem e agride as mulheres. Preserva o equívoco masculino e, de certa forma, o legitima. Talvez a amante tenha sido passiva, carente e infantil; mas isso não é relevante, a competição transforma qualquer feminista em machista.


A mulher machista achará que o problema está nela, não no namorado ou marido. Que ele não está mais a fim de sexo, pois ela engordou, que ele não pára em casa, pois ela não oferece atenção. A mulher machista se culpa e se martiriza, e desculpa o companheiro para fortalecer sua desvalia.


A mulher machista pode ter mudado no transcorrer dos anos e pensar que é diferente de sua avó e de sua bisavó. Mudar não significa evoluir.

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