PARA MINHA ANA
que completa 35 anos hoje
Poema inédito - Fabrício Carpinejar
Agora, vejo minha mulher
ao meu lado, seu corpo
já passou pelos filhos,
os filhos já passaram pelo seu corpo,
a pele reluziu, dilatou-se,
voltou ao estado
de contenção e apuro,
e aos poucos se mantém
recolhida como um carretel
e sua corda de amanhecer.
Ela escolheu envelhecer comigo.
Pode ter sido compaixão pela
minha falta de jeito,
acaso ou um acidente
dos cabelos lisos e oleosos.
Ela escolheu envelhecer comigo.
Pode ter sido amor,
simpatia ou alguma
perda fora de mim
que despertou suas perdas.
Pode ter sido a idade que pedia um marido,
sei lá, o marido pedia uma idade.
Ela escolheu e aqui fez sua noite.
Suas mãos se toldam em uma tenda
quando alivia minha barba
de outros odores que não o seu.
Eu rezo para não ter paz
no corpo dela.
Sua boca é vinho no inverno,
figo no verão.
Seus olhos ficam flutuando sozinhos,
a nudez para cima, ondulada
como as linhas da montanha.
Expondo-se ao sol
com uma dispersão selvagem.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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Bah! Perfeito! Muito lindo ;D
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