quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

4/26/2004 03:58:49 PM

LUGAREJO

Gravura de Marc Chagall





O inverno chega com força. Faço de conta que não é comigo, mas vou me encolhendo devagar. Tudo é longe. Os filhos passam a falar rápido. Procuro percorrer o lado do sol. Puxo conversa com a luz. O cabelo queima palha. Perde-se a hora de acordar. O sol mente a idade do vento e descasca tangerinas nos telhados. O inverno é a toalha de mesa com restos de pão. Subo mais a tosse do que a escada. Os ossos têm goteiras. O vinho fica violento. Toda janela pensa ser lareira. Remo os cílios. As esquinas são portas batendo. O céu parece baixo. O rio anda de costas. A ave é um chapéu perdido. As mãos brincam de marionetes. O firmamento afivela o pampa. Os vidros se transformam em dentes. Os sons escurecem mais tarde. As árvores gritam de cócegas.

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