PAU DURO
Escultura de Jasper Johns
Fabrício Carpinejar
Não há como usar outra expressão, ainda que soe agressivo. Pênis ereto é pior. Tico já induz o tamanho. Pinto lembra galinha. Vara é falta de modéstia. Vamos falar de pau duro. O homem pena por estar exposto. Sem querer, concebe fantasias eróticas numa reunião de trabalho e o volume da calça o entrega. Ele não consegue esconder quando está desejando, quando está distraído, quando está longe. Incapaz de mentir sua vontade. Incapaz de fingir. Incapaz de disfarçar.
Um leve presságio, o membro salta. Ajeita-se de lado, ele dá cambalhota e retorna à posição original. Tem a elasticidade de um ginasta olímpico. Tenta-se recordar da vó, da tia, da morte, da mendiga mais descabelada, despistar as imagens, mas nada o demove da inflação. O equivalente seria se, excitados, os seios crescessem, a ponto de furar o sutiã ou inchar a blusa.
É comum o homem despir na sua imaginação a mulher com que conversa. Terrível confessar isso, mas é um hábito, um treino, uma maldição. Tanto faz o assunto, ele tratará de arrancar as roupas dela em pensamento. Confere se vai apreciar e sonda as conseqüências. É óbvio que nem sempre agüenta avançar no exercício.
Não se respeita um homem com pau duro. É - de cara - um tarado. Provoca a piada. Desde criança, enfrenta-se o constrangimento de abafar o desejo e a curiosidade, de enganar o corpo.
Já passei por sérias dificuldades. Na escola, sentava atrás da menina que gostava. Numa manhã, ela veio com os cabelos cheirosos, cheirosos demais. Fechei os olhos e iniciei o percurso de seu pescoço. Quando chegava perto da boca, a professora de Matemática me chamou ao quadro negro. O que fazer? Tinha um agravante do uniforme escolar, cilada para crianças excitadas. A calça de abrigo, o tecido leve, facilitava a alavanca. Preso à cadeira, disse que desconhecia a resposta e que convidasse outro. Ela insistiu que eu fosse. Fui. Arrastei o caderno comigo. A professora advertiu para deixá-lo na classe. As risadas vieram depois para balançar o lustre.
Em outra cena, transava quando chega o entregador de comida árabe. No terceiro toque da campainha, decido ir de qualquer modo. Ando meio encurvado, para desviar a atenção. O entregador observa o desnível de minha cintura e descubro que ele é banguela. Levei a encomenda com a terceira mão.
O pau é incontrolável, não tem como suborná-lo ou fazer um acordo - goza de vida própria. Ele poderá apreciar o que seu dono não aprecia, pedir para fazer o impossível, encantar-se nos momentos de maior constrangimento e luto. Não respeita a mulher de seu melhor amigo ou a filha de sua melhor amiga. Endurece e pronto, teimoso que só vendo. O jeito é dobrar as pernas, andar como um pato, botar a pasta na frente e rezar, rezar muito para que ninguém note a diferença.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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