quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

4/21/2006 10:49:34 AM




O Consultório Poético não tem feriado. Leia coluna abaixo ou confira no site da Superinteressante.


ELE É CASADO E TEM AMANTE

Consultório Poético

Pintura de Sir Edward Burne-Jones


Fabrício Carpinejar





"Gostaria que me ajudasse a me entender, ou melhor, a entender o porquê de não conseguir sair de uma relação de Amor versus Ódio. Vou te explicar: me divorciei no ano de 1996 (meu ex me traiu e ainda por cima teve um filho com outra). Passado o devido tempo superei (o que sinto por ele agora não passa de indiferença, mas tenho que tolerá-lo porque ele é pai de minha filha).


No final de 1999 me envolvi com um homem casado - ironia do destino? Coincidência? Enfim, "ficamos" juntos até o início do ano de 2003, quando eu dei um basta, pois eu queria que ele ficasse definitivamente comigo, mas ele nunca se decidia. Fui taxativa quando disse a ele: ou ela ou eu.


Não nos falamos por mais ou menos uns quatro meses, quando eu vim a saber que ele se envolvera com outra. Mesmo separados, brigamos e discutimos, nos dissemos muitas coisas sérias e continuamos separados. Não podia vê-lo na minha frente, e ele ficou na dele (ou melhor, com a outra). Para mim foi chocante, até doente fiquei (algo que eu jamais admitiria para mim mesma em algum momento da minha vida, pois nem mesmo quando me separei sofri tanto assim), passei a ter crises de ansiedade e pânico o que venho tratando até hoje.


Estava decidida a esquecê-lo definitivamente quando ele veio me procurar propondo que voltássemos. Não resisti e voltei. Mas, além de ele continuar casado, tenho quase certeza que ele ainda tem caso com a outra - o que ele nega e diz que se em algum momento se envolveu com ela é porque estava carente e eu havia terminado com ele. E ainda que o envolvimento com a outra não tenha passado de sexo, pois, das muitas tentativas de me esquecer, nunca conseguiu.


Sempre nos demos muito bem em todos os sentidos. Os momentos que passamos juntos são e sempre foram os melhores que já passei com alguém, nossas conversas são intermináveis, rimos muito, beijamos muito e nos amamos muito cada vez que nos encontramos. Sempre me confidenciou coisas da vida dele. Acho que a esposa nem imagina que aconteceram.


Não consigo me interessar por nenhum outro homem (já fiz várias vezes a tentativa). Ele é tudo que eu sempre quis para mim.


Por outro lado, já se passaram cinco anos e a situação continua assim. Considero-me (outras pessoas me admiram também) jovem e bonita. Muitos me perguntam como e por que ainda estou só depois de quase dez anos de separação (eles nem imaginam a história que vivo). Queria poder esquecê-lo, pois acho que se até agora as coisas não deram certo é porque não vão dar mais. Amo este homem e acho que ele tem um sentimento especial por mim também. É sempre ele que vem atrás nas minhas tentativas de esquecê-lo."



Inês,


"Atrás de homem e de ônibus, não se corre. Sempre vem outro."


Esse provérbio que lembro na boca de minha mãe não deixa de ser verdade. Ele não pode ser tudo o que sempre quis, porque ele não consegue nem ser metade do que pretende dele.


Toda relação é um pacto, um contrato, aceitou as cláusulas na medida em que voltou e abriu mão de seu orgulho. Aceitou sua mulher e, agora, sua amante. Sem ler antes, assinou embaixo da letra miúda e indecifrável do papel. Aceitará qualquer disparate. O sofrimento, diferente da alegria, é inesgotável.


Não reparou que a convivência com ele se tornou uma esmola, um favor, uma caridade. Depende dele para ser feliz, não mais de você. Será que ele depende de igual modo? Caso sim, por que não opta definitivamente?


Fala-me: "acho que se até agora as coisas não deram certo é porque não vão dar mais". Escuto e não concordo com seu pessimismo. Seu pessimismo é para si, nunca para ele. Em cinco anos, o sujeito não mudou. Não mudará. Testou sua paciência e saiu ganhando. Viu que não consegue ficar longe dele, e explora sua fragilidade. Nunca soube o que é enterrar uma mulher viva dentro do coração. É cômodo para ele continuar desse jeito, com os prazeres a costurar junto dos botões das camisas. Ele não corre riscos, não toma atitudes, não empenha a palavra. É capaz de fazer as confidências mais ternas, de comover ao recordar do passado, mas não arreda o pé do universo machista, do egoísmo em mandar na sua e nas demais mulheres.


Precisa encontrar-se escondida, mentir para proteger a rotina dele, suportar a solidão do Natal, do aniversário, do Ano Novo, da Páscoa e das datas comemorativas. Ele pode ligar a qualquer hora, você não. Será que vale a pena?


Ele confessa que o envolvimento com uma terceira foi carência, que foi apenas sexo. Imagina o que ele diz de você para a esposa e para a outra? Um homem não é criativo quando mente.


Voltou com ele para disputá-lo com a amante. A esposa não contava, mas a outra amante estava tomando seu lugar. Seu pânico e doença surgiram do medo de ser substituída. Eu teria medo de substituir a minha vida por uma ilusão. Sacrificar minha vida por um homem que penso que está fora de mim, e na verdade está dentro aguardando ser encontrado.


Enviem cartas com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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