quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

3/7/2006 10:29:43 PM

MÁQUINA DO MUNDO


A poesia morde o próprio rabo. Ninguém pediu para ter tanta elasticidade!


É circular, provocadora, gosta de ficar à espreita para atacar. Recusa dublê, suborno, capricho cênico. Troca de pele no meio da peça, em segundos. Autêntica, debochada, não vai esperar ninguém virar as costas para falar mal. Olhará de frente a sua vítima, gingará, acenderá o cigarro na primeira pedra, lamberá o fogo, a chuva, o vento antes de soltar o veneno. Ela se esconde na linguagem para dar o bote. É lenta em segredo para ser rápida e letal em público. Quando se pensa que não disse nada, resume uma vida. Quando se pensa que acabou, continua a dizer. Frustra as expectativas porque faz melhor do que elas. É serpente na grama.


Máquina do Mundo entra em sua nova edição. Envenenada.


A prescrição médica é de William Carlos Williams (traduzido por José Paulo Paes), em "Uma espécie de canção":


"Que a cobra fique à espera sob

suas ervas daninhas

e que a escrita se faça

de palavras, lentas e prontas, rápidas

no ataque, quietas na tocaia,

sem jamais dormir."


A insônia do céu ou do inferno nos espera.

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