quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

3/20/2005 11:31:26 AM

CIDADE PEQUENA

Gravuras de Guignard


Poema de Flávio Luis Ferrarini





As casas na cidade pequena

São vacas deitadas à sombra

As ruas são cobras tristes

Esticadas ao sol


Na cidade pequena as línguas

São enxadas que carpem intimidades

Como cobras tristes

Tristes como as vacas deitadas


Na cidade pequena as intimidades

São roupas esticadas no varal

Confissões de pequenas cobras

Sobre as vacas deitadas


Os rostos na cidade pequena

São molduras tristes

Como cobras à sombra

Das janelas das vacas deitadas


Na cidade pequena são os postes

Que vigiam as cobras das vacas

Se a língua neles encosta

Os postes desabam


Desabam os postes na cidade

Pequena de vidas menores

Sobre as cobras tristes

À sombra das vacas deitadas





VARAL DE LETRAS RECEBE FERRARINI

Encontros com poetas entram em seu segundo ano.


Varal de Letras, série de debates mensais que apresento na Livraria Cultura, recebe o poeta Flávio Luís Ferrarini, considerado "uma das vozes mais originais surgidas na década de 90" pelo crítico José Paulo Paes. Com o tema "A vida de interior e o interior da poesia" e entrada franca, o evento acontece nesta terça (22/3), às 19h30, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country (Tulio de Rose, 80/ auditório no 2º piso Tel.: 30284033). O encontro conta com a participação especial dos jornalistas Tom Madalena e Eduardo Lanius.


Flávio Luís Ferrarini nasceu em Travessão Paredes (RS), em 1961. É poeta e publicitário, autor dos livros de poesia "Volta e meia um poema na veia "(1985); "Olho vermelho no centro do espelho" (1988); "Minuto diminuto" (1990); "Cogumelos Amarelos" (1994); "Crônicas da cidade pequena" (1996); "A captura das águas" (1996) e "Outubro sobre arco-íris" (1999). Publicou ainda as novelas "Uma história sem elos" (1986); "O segredo de Ogliver Nut" (2000) e "Roger Bispo e a deusa Hator" (2003).


Ferrarini tematiza a solidão ferina, caústica e irônica das pequenas cidades. Em versos ora simétricos ora minimalistas, oferece cenas de vidas discretas, indiferentes e prosaicas do interior gaúcho. Realiza a metafísica do miúdo, das pessoas sem importância, que encontram Deus sem procurar. De acordo com José Paulo Paes: "os minutos interioranos da poesia de Flávio Luís Ferrarini valem bem horas inteiras de muito poeta de cidade grande".


O já tradicional Varal de Letras inicia a temporada de seu segundo ano. Consiste num bate-papo franco sobre estilos, buscando valorizar a vida da leitura. Expõe a obra de novos poetas com humor e naturalidade, diminuindo o abismo entre as gerações literárias.

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