CIDADE PEQUENA
Gravuras de Guignard
Poema de Flávio Luis Ferrarini
As casas na cidade pequena
São vacas deitadas à sombra
As ruas são cobras tristes
Esticadas ao sol
Na cidade pequena as línguas
São enxadas que carpem intimidades
Como cobras tristes
Tristes como as vacas deitadas
Na cidade pequena as intimidades
São roupas esticadas no varal
Confissões de pequenas cobras
Sobre as vacas deitadas
Os rostos na cidade pequena
São molduras tristes
Como cobras à sombra
Das janelas das vacas deitadas
Na cidade pequena são os postes
Que vigiam as cobras das vacas
Se a língua neles encosta
Os postes desabam
Desabam os postes na cidade
Pequena de vidas menores
Sobre as cobras tristes
À sombra das vacas deitadas
VARAL DE LETRAS RECEBE FERRARINI
Encontros com poetas entram em seu segundo ano.
Varal de Letras, série de debates mensais que apresento na Livraria Cultura, recebe o poeta Flávio Luís Ferrarini, considerado "uma das vozes mais originais surgidas na década de 90" pelo crítico José Paulo Paes. Com o tema "A vida de interior e o interior da poesia" e entrada franca, o evento acontece nesta terça (22/3), às 19h30, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country (Tulio de Rose, 80/ auditório no 2º piso Tel.: 30284033). O encontro conta com a participação especial dos jornalistas Tom Madalena e Eduardo Lanius.
Flávio Luís Ferrarini nasceu em Travessão Paredes (RS), em 1961. É poeta e publicitário, autor dos livros de poesia "Volta e meia um poema na veia "(1985); "Olho vermelho no centro do espelho" (1988); "Minuto diminuto" (1990); "Cogumelos Amarelos" (1994); "Crônicas da cidade pequena" (1996); "A captura das águas" (1996) e "Outubro sobre arco-íris" (1999). Publicou ainda as novelas "Uma história sem elos" (1986); "O segredo de Ogliver Nut" (2000) e "Roger Bispo e a deusa Hator" (2003).
Ferrarini tematiza a solidão ferina, caústica e irônica das pequenas cidades. Em versos ora simétricos ora minimalistas, oferece cenas de vidas discretas, indiferentes e prosaicas do interior gaúcho. Realiza a metafísica do miúdo, das pessoas sem importância, que encontram Deus sem procurar. De acordo com José Paulo Paes: "os minutos interioranos da poesia de Flávio Luís Ferrarini valem bem horas inteiras de muito poeta de cidade grande".
O já tradicional Varal de Letras inicia a temporada de seu segundo ano. Consiste num bate-papo franco sobre estilos, buscando valorizar a vida da leitura. Expõe a obra de novos poetas com humor e naturalidade, diminuindo o abismo entre as gerações literárias.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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