Jornal Zero Hora, Segundo Caderno
Porto Alegre (RS), 22/02/2005, Edição nº 14427
UMA CIDADE DO TAMANHO DA INFÂNCIA
Fabrício Carpinejar lança livro infantil sobre Porto Alegre
PATRÍCIA ROCHA
Fábula escrita em forma de prosa que mais parece poesia
Foto(s): Eduardo Nasi, divulgação/ZH
A missão era fazer uma história sobre Porto Alegre para crianças. O poeta Fabrício Carpinejar aceitou o convite e cumpriu-o a sua maneira. O resultado está em Porto Alegre e o Dia em que a Cidade Fugiu de Casa (Alaúde, 28 páginas, R$ 18,50), uma fábula feita para qualquer idade em forma de prosa que mais parece poesia.
O livro, juntamente com São Paulo e o Imperador da China, de Luiz Bras (codinome de Nelson de Oliveira), inaugura a série infantil Paralelepípedos sobre as 27 capitais brasileiras. Para apresentar Porto Alegre, Fabrício voltou à própria infância, no bairro Petrópolis, quando era um menino de olhos "desmanchados de verde". O personagem refaz o caminho do autor: um dia, pega um ônibus ao acaso, certo de que todas as ruas terminariam na sua casa. E então descobre que a cidade ia muito além do armazém e da igreja. Havia viadutos, muitas quadras e um laçador "que não podia levantar a mão para coçar o nariz".
- É um personagem meio autobiográfico. Um dia, também me perdi de ônibus. Desci na Redenção, e aquilo era muito grande para eu conseguir me encontrar - conta Carpinejar.
Autor de seis livros de poesia, Carpinejar estréia na prosa como poeta. Há frases que mais parecem versos: "Descobri que redenção é o lugar onde as crianças brincam até o dia murchar em noite. Não tive mais dó do que não conhecia" ou "Eu disse que não poderia estar perdido porque não me encontrava ao menos para me perder". Talvez o resultado não pareça de fácil leitura para crianças, mas a história tem ritmo, humor e brinca com a perspectiva infantil ("Ônibus demorava mais do que dois períodos na escola"). O mesmo olhar de menino está no traço do ilustrador Eduardo Nasi, editor do caderno Patrola, de Zero Hora.
- Não subestimo a criança a ponto de fazer uma linguagem inferior para ela entender - diz Carpinejar, pai de Mariana, 11 anos, e Vicente, dois.
O fato de morar em São Leopoldo há oito anos também não foi um impedimento.
- São Leopoldo pode ser minha mulher, mas Porto Alegre é minha amante. Não há como apagar o alumbramento da infância.
( patricia@zerohora.com.br )
Porto Alegre e o Dia em que a Cidade Fugiu de Casa (Alaúde, 28 páginas, R$ 18,50)
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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