quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

12/3/2006 10:12:10 PM



Zero Hora, Caderno Vida, Porto Alegre, 02 de dezembro de 2006. Edição nº 15076


"A vida não recompensa o fumante. E o cigarro não recompensa a vida. Pelo menos pensa nisso, pai, e saiba que não pretendo estragar seu dia, mas apenas consertar todos os seus dias a partir de agora."


POR FAVOR, PARE AGORA

Carpinejar não quis enfrentar a luta contra o vício sozinho, criou um blog, onde compartilha a cotidiano de quase ex-fumante


LEANDRO RODRIGUES


Foto(s): Adriana Franciosi/ZH



O poeta Fabrício Carpinejar acredita que durante este verão vencerá a batalha contra o cigarro, contando com o apoio da filha, Mariana



Com frases como essa, em um e-mail enviado no começo de setembro, Mariana, 12 anos, levou o pai, o poeta e jornalista Fabrício Carpinejar, a tomar uma decisão: largar o cigarro. A jornada revelou-se mais dura do que ele imaginava. Mesmo assim, ele sentencia: é irreversível, o cigarro está com os dias contados.


- Até agora, o máximo que consegui foi ficar cinco dias sem fumar. Mas com aquela correria da Feira do Livro, não segurei e voltei. Terei de mudar a minha rotina para não recair. Vou conseguir isso nas férias de verão, com o apoio e a fiscalização da Mariana - diz o poeta.


Carpinejar não quis manter em segredo a agonia de um viciado em nicotina. No seu blog na Internet, escreveu sobre a difícil tarefa, de 16 a 28 de setembro. Foi uma vitrina virtual de um fumante sofrendo os efeitos da ausência do tabaco e refletindo sobre isso. A solidariedade não tardou a surgir.


- Abordei isso no blog para não me sentir tão só nessa luta. Criei uma novela da minha experiência. E também para mostrar a quem não fuma que não é fácil, isso é um vício. Recebi muita solidariedade dos internautas - afirma.


Ele se descobriu mais dependente do cigarro do que imaginava, após 16 anos fumando. Nos dias em que evitou dar uma tragada, foi sentindo a evolução da síndrome da abstinência da nicotina. O humor e o trato com as pessoas foram os primeiros a sofrer. As mãos começavam a tremer, e os delírios o acometeram à noite nas primeiras 24 horas sem a companhia da fumaça.


Pneumologistas asseguram que esses efeitos não são exagero ou "fiasco" dele. Eles alertam que o cigarro é muito potente. Uma máquina perfeita para viciar: pequeno, barato, de fácil acionamento e rápido efeito. Apenas sete segundos separam a tragada da absorção da nicotina pelo cérebro.


- Usamos gomas de mascar e adesivos para repor nicotina e reduzir os efeitos da abstinência nos primeiros dias, mas é difícil. Nada oferece tanta nicotina em tão pouco tempo - afirma José Miguel Chatkin, coordenador do Ambulatório de Auxílio ao Tabagista do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).


A pneumologista Maria Eunice Moraes de Oliveira, que coordena o Programa de Tratamento do Tabagismo no Hospital Conceição, alerta que muitos fumantes necessitam ajuda médica para conseguir largar o cigarro. O aviso parece certeiro no caso de Carpinejar.


- Vamos ver o que será nesse verão, com as minhas férias. Se não der certo, vou procurar ajuda médica. O importante é que eu já decidi, não vou recuar - promete.


( leandro.rodrigues@zerohora.com.br )



Tentativas

O que você pode fazer em casa antes de procurar um médico:


* Marque o dia D para largar o cigarro, faça dele um momento especial, marque algo diferente para fazer


* Pense no que poderia mudar na rotina. Buscar atividades diferentes ajuda muito. A idéia é quebrar as associações que existem entre fumar e a sua rotina, evitando certas situações e ficando longe de fumantes


* Você poderá ficar ansioso, irritado, com dificuldade de concentração e ter dores de cabeça por causa da falta da nicotina. Fique firme, isso passa em, no máximo, duas semanas


* Se sentir muita vontade, você pode escovar os dentes a toda hora ou comer uma fruta. Não fique parado na fissura, converse com um amigo, distraia a atenção. Saiba que essa vontade forte não dura mais do que cinco minutos


* Que tal guardar o dinheiro que você gastaria com o cigarro e contá-lo no final de cada semana? Pode usá-lo para fazer algo diferente


* Voltou a fumar? Saiba que isso não é fracasso e nem significa que você não vai parar de fumar. Você nunca volta à estaca zero, cada tentativa de largar aumenta as chances de sucesso. Procure um médico para ter ajuda mais personalizada ou em grupos


Fonte: Instituto Nacional do Câncer


DAR UM BASTA




Foto(s): Adriana Franciosi/ZH



A possibilidade de surgir um remédio que libere o fumante do vício está fora de cogitação no momento. É a determinação de abandonar o tabagismo, a consciência absoluta dos males do cigarro que fará a diferença. Os repositores de nicotina (gomas de mascar ou adesivos) e antidepressivos apenas tornam o processo menos doloroso. Não há solução mágica.


- A primeira coisa que fazemos é avaliar o grau de motivação para largar o cigarro e o grau de dependência. A partir disso, definimos como o paciente quer, se largar de uma vez só ou gradualmente, e quando vai começar. A isso agregamos a medicação - resume a pneumologista Maria Eunice Moraes de Oliveira.


Ela explica que se analisa a rotina do paciente para mapear as ocasiões onde o cigarro é aceso. Há "gatilhos" para cada pessoa que devem ser identificados. Uns não conseguem falar ao telefone sem fumar, outros acendem o cigarro quando ligam a TV, e aí por diante. Nessa fase de mudança, entra a terapia cognitivo-comportamental. E quando a fissura começa a bater, os medicamentos fazem sua parte. Geralmente, o uso de repositores de nicotina e antidepressivos é feito durante três meses.


Neste mês, na França, será lançado um medicamento que pode deixar para trás o que se usa hoje. A vareniclina bloqueia a entrada da nicotina no neurônio. Em caso de recaída, o fumante não sentirá o mesmo prazer, pois os receptores da nicotina no cérebro estarão "tampados". No Brasil, a vareniclina deve chegar em maio de 2007.


- A julgar pelos resultados dos ensaios clínicos, esse remédio parece muito promissor, dobrando a chance de sucesso na tentativa de parar de fumar - diz José Miguel Chatkin, coordenador do Ambulatório de Auxílio ao Tabagista do Hospital São Lucas.


Os benefícios do chega


* Após 20 minutos: a pressão e a pulsação voltam ao normal


* Após duas horas: não há mais nicotina circulando no sangue


* Após oito horas: o nível de oxigênio no sangue fica normal


* Entre 12 e 24 horas: os pulmões funcionam melhor


* Após dois dias: o olfato percebe melhor os cheiros, e o paladar sente melhor a comida


* Após três semanas: a respiração se torna mais fácil, e a circulação melhora


* Após um ano: o risco de morte por infarto cai pela metade


* Entre cinco e 10 anos: o risco de sofrer infarto será igual ao de pessoas que nunca fumaram


Fonte: Instituto Nacional do Câncer


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