quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

12/29/2006 08:36:31 PM

QUE 2007 SEJA O ANO DOS "MALAS"

Gravura de Giacometti


Fabrício Carpinejar






Fiquei nos últimos dias sem celular. Com o aparelho, mas sem a possibilidade de fazer ligações. Recebia apenas chamadas. Foi um respiro e uma revelação. Revelação porque já me vi na mesma situação outras vezes quando me apaixonava, e não podia ligar para não soar como um chato ou como um dependente.


Aguardava uma resposta, pouco imaginando que a mulher também fazia o mesmo. Duas respostas aguardando não formam uma pergunta. Nem um casal.


Não compreendo porque o apaixonado não pode dizer que está apaixonado. Se ele declara, é taxado de precipitado e estraga o mistério. Que mistério? Todos os seus conhecidos sabem que ele é apaixonado, ela igualmente, o que tem ainda para esconder? É uma convenção que atrapalha a franqueza. Como o amor pode vingar, se ele já começa mentindo o que sente? O que há de errado em se expressar, narrar, caminhar pela boca?


Ao longo da vida, preferi perder relacionamentos para não ser um "mala", alguém que não se toca e teima. Não retornava aos chamados, me fazia de complicado, alegrava-me com os adiamentos. Estou reavaliando minha posição. Talvez o "mala" seja mais feliz do que o sedutor, porque ele acaba conhecendo o limite, as possibilidades de cada paixão, não vive de uma expectativa com pavor de fracassar. Ele vai até o fim, descobriu que a cerveja é mais gelada e barata na fossa. O sedutor acomoda-se no deslumbramento do início - e no pressentimento que seria perfeito se continuasse. O que não continua não é perfeito.



O "mala" é a consagração do inconseqüente. Deve sofrer, porém tem realidade para sofrer, não é como o sedutor que sofre do invisível.


O sedutor controla cada palavra ao seu respeito. Um narcisista capaz de anotar suas conquistas numa cadernetinha escolar. O "mala" não está preocupado com sua reputação, com que a mulher vai contar dele, do que deveria dizer. Ele fala com uma honestidade unicamente encontrada durante a fome.


As mulheres estão acostumadas com o que é difícil. Se for impossível, melhor. Infelizmente, não acolhem com generosidade o "mala". Observam a figura com ares de repulsa. Até repugnância. O "mala" é a contradição feminina, o que ela deseja no decorrer da relação, não em seu princípio. O "mala" pode ser mala depois, desde que simule resistência nas primeiras semanas.


Só que o "mala" não finge. Ele se denuncia no momento destinado a se conter, transparece seus temores com pontualidade. Não está disfarçado de homem sério. É um ansioso amoroso. Um suicida intelectual. Um nervoso infantil.


E é justo da insistência intrépida do "mala" que o amor precisa para ser carregado de volta à sinceridade.

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