quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

12/26/2006 11:03:24 AM

MINHA FILHA COMPLETA TREZE ANOS

Pintura de Allen Jones


Fabrício Carpinejar





Não é a minha idade que determina que envelheço; é a idade de meus filhos. Costumo absolver minha erosão, dar um desconto às rugas e vincos, sair com a roupa malpassada do corpo, não me ameaçar com comparações do que fui e do que sou. Mas o que fazer quando sua filha completa 13 anos?


Treze anos? Calma, não consegui absorver. Quando ela tinha 12, não parecia tão longe, ainda era possível brincar de gangorra e enganá-la com desculpas.


Não mais a interessa uma piscina de 1000 litros. Muito menos poderei inventar penteados ou indicar roupas. Ela gosta de tudo o que não gosto. Sou o pai que ela precisa enfrentar, não mais o protetor que a colocou na bicicleta e retirou as rodinhas sem que percebesse. Resta-me esperar que ela tenha saudades de minha paternidade. Um dia, quem sabe, ver que algo ficou dos ciscos que soprei de seus olhos e descobrir que os ciscos são os meus olhos dentro dos seus.


Hoje Mariana completa 13 anos. Treze. Desculpa a repetição, estou me habituando. É um choque. Antes brigava pela festa de aniversário, por bolo, brigadeiro, branquinho, amigos ao redor. Não a agrada mais o estardalhaço de crescer. Prefere que as velas queimem sozinhas, longe da enseada da boca. Aos treze, ela não quer comemorar, ela se conforma.


De uma forma e de outra, terminou sua infância. Da adolescência vai para a vida adulta, sem volta. Não vou mais pegá-la no colo. Terei que tomar cuidado em não tocar em seus seios na hora de abraçar. Ela regula com minha altura. Pela primeira vez, não a olharei de cima. Ela me repreenderá mais do que concordará comigo. Sou obrigado a bater na porta para entrar. Nosso amor está cheio de cuidados e pudores. É um amor mais recôndito.


Ela será grosseira ao telefone e nem irá reparar (fui igual com os meus pais). Estarei sempre a atrapalhando. Ao aguardar a ligação de um guri, telefonarei na hora. Fará o possível para que desapareça rápido. Monossilábica, pronunciará bala ou palha diante de minhas sugestões. Usará fones nos ouvidos e vai recorrer à mímica para expressar sua opinião. Dirá que não a entendo mais vezes do que o necessário. E não a entenderei mesmo.


Chegou o momento de minha insônia, permanecer acordado mexendo a luz do abajur e da geladeira, até que ela volte das festas. Pais são sonâmbulos quando os filhos nascem e quando os filhos partem ao mundo. Terei que ser independente e justo, mesmo sofrendo de medo. Não receberei mais cartões e desenhos com a promessa de amizade eterna. É recomendável guardar um estoque de sua infância para visitar e não se desesperar com a falta de notícias.


Deixarei de ser seu ídolo. Serei mais humano e falível. Ela só me elogiará quando não estiver junto, para não me influenciar.


Minha filha tem treze anos. Ontem trocava suas fraldas, andava com um cueiro como manta, levava-a de carrinho para praça, enxergava seu riso trocando os dentes, serenava sua febre, mentia para viver mais de uma vez sua verdade. Era ontem, ela brincou de esconde-esconde e está debaixo da cama, com alguns anos que não percebi passar em seu rosto. O tempo não voa, a voz voa.


Minha filha agora me põe a envelhecer.

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