quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

12/21/2005 04:25:25 PM

PROZAC AMOROSO


O Consultório Poético continua dando palpites para dúvidas e curiosidades amorosas. A nova coluna está no site da Superinteressante. Reproduzo o texto abaixo.


ELE ME AMA?

Pintura de Kurt Schwitters


Fabrício Carpinejar





"Conheci meu atual namorado através da internet, num acaso sem maiores pretensões. Isso faz 1 ano. Como não morávamos na mesma cidade, nos encontrávamos + ou- 1 vez por mês, até que em junho deste ano ele viajou para outro estado e não nos vimos por 5 meses. Agora ele está na minha cidade para morar. Estou feliz com isso, no entanto me mete medo a situação. Quis tanto tê-lo por perto, e agora que ele chegou não tem o mesmo carinho de antes, ele parece frio e distante... (Espero não ser sintoma da minha TPM, ou fragilidade por conta das provas de vestibular!)


Ele é um rapaz muito discreto que há poucos dias me disse ser 'consumido por outras paixões', que seriam o trabalho na empresa nova, o direito, a preparação para o curso de mestrado, etc. Ele diz que, depois de morar sozinho tantos anos longe da família e dos amigos, compreende a saudade de outra forma, e para não se decepcionar simplesmente não se empolga facilmente.


Ele mantém essa distância segura de tudo, inclusive de mim. Não conhece minha família nem meus amigos, apesar de ser preocupado com o que acontece na minha vida.


Ele não diz que me adora mas... Não me deseja como antes. Resolvi deixá-lo respirar e não cobrar nada. Estou chateada com a situação, porque o amo muito e gosto de estar sempre por perto. Torço pelo sucesso na carreira e independência financeira... Mas também quero carinho! Quero que ele se apaixone por mim, que me ligue de repente, que me acorde com beijos... Fico tentando ser a mulher ideal, igualmente sensata e madura, sem dar muita importância para o amor e todos os outros sentimentos que vem no pacote. Mas... por dentro eu sou impulsiva e o amo demais. E quero dizer isso. Mas eu devo? Outro dia disse que o adorava, que estava com saudades. Ele ficou mudo, me olhando, com uma expressão quase triste. Para não me constranger me abraçou e começamos outro assunto.


É preciso declarar o amor para matá-lo? Sempre que ele dorme confesso amá-lo num sussurro, mas ele nunca ouviu, claro... Isso tudo por temer a reação dele. Estou muito confusa. No momento resolvi deixar como está, e não insistir em nada. As prioridades dele são profissionais, e deixou isso bem claro para mim, abusando da sinceridade. Mas ... eu devo me contentar com isso? Tenho medo de ser dona de um amor egoísta, que sempre quer algo em troca... Será que estou sendo justa? Devo dizer ou calar, ... o amor velado ou escancarado?"



Não existe uma forma única de amar, Priscila, mas uma forma justa de amar: a sua. Não importa o tempo que falta a uma relação, importa como vocês aproveitam o tempo que estão juntos. Pelo jeito, vocês estão se vendo como amigos. Amor não é consórcio, para pagar e depois receber. No amor, recebe-se primeiro e depois se paga. Empolgação é necessidade. O que não é necessário é qualquer coisa, menos amor. O entusiasmo mede a febre e a dependência. Sem alegria, é servir chá para fantasmas.


A tortura é conter e represar seus sentimentos. As dúvidas aumentam em segredo. Recomendável contar o que a atormenta antes que enlouqueça de hipóteses, questionar mesmo o posicionamento frio dele ao longo dos dias. Não é normal, a situação demonstra que já não se encontram em igual sintonia. Ainda que seja para terminar de vez. O que não dá para suportar é ficar na lengalenga de que "não tenho cabeça para isso". Correto? Não há trabalho que remova o desejo. Se ele vive um momento de aceitação e afirmação na empresa, mais um motivo para partilhar contigo, não serve como desculpa para se afastar (Assim como enfrenta o vestibular e vem se preocupando com o rumo do casal).


Relacionamento que começa na distância sofre dificuldades quando se torna presencial. Primeiro pela convivência maior, perde-se um pouco do glamour da imaginação e a saudade vira responsabilidade. Em segundo, porque nada mais impede o namoro. É o momento de firmar laços e se ajudar.


Não acredito que o amor morre quando ele é declarado. Não acredito em um amor que não seja egoísta - só que é um egoísmo a dois. Não acredito que deve se contentar com um limite. Não há limite nem para a memória, nem para o corpo que não cansa de se descobrir a dois. Não acredito que deve se calar. Silêncio que não é dividido é omissão e indiferença. Não acredito em troca, mas em doação e entrega. E não acredito tampouco que ele não escutou seus sussurros enquanto dormia.


Pode mandar cartas para carpinejar@terra.com.br

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