quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

11/24/2006 09:44:24 PM




A EX DE MEU MARIDO USA OS FILHOS DELE CONTRA MIM

Arte de Allen Jones

Do Consultório Poético

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Fabrício Carpinejar





"Prezado Fabrício,


Seus préstimos me foram muitíssimo bem recomendados por um amigo com quem discuti, sem sucesso, a questão que passo a expor.


Tive um relacionamento com um homem que, quando conheci, era casado. Alguns meses depois ele se separou e hoje vivemos juntos. Eu adoro a vida que tenho com ele. Gosto dele, da companhia dele, dos beijos e abraços dele. Mas a nossa vida tem sido atribulada.


A ex-mulher dele tem criado inúmeros problemas com os filhos.


Fala muito mal dele e de mim. Fala mal para muitas pessoas, inclusive para os filhos. Os filhos dele estão ficando distantes, e ele sofre com isso. Os dois não vão à nossa casa, negam-se a me conhecer.


Além disso, é incrível a rejeição social que sofremos. Os amigos dele se afastaram totalmente. Dizem que não se interessam pela vida pessoal dele. Antes de ficarmos juntos, conhecíamos pessoas em comum. Essas pessoas ignoram o fato de estarmos juntos. Convidam para eventos e dizem claramente que, se eu for, eles não querem a presença dele.


Disso tudo parece que sou uma pessoa execrável, mas isso não é verdade. Eu trabalho duro, venho de uma família decente, cuido das minhas filhas. O único "pecado" que cometi foi o de me apaixonar por ele, enquanto ele era casado. Disso, pessoas que antes demonstravam até apreço e carinho por mim, passaram a me taxar como indigna.


Além de tudo isso (falatório, problemas com filhos e rejeição de amigos), eu ainda tenho problemas meus. Eu acho que o que fiz foi errado mesmo. Tenho uma culpa danada. E não aceito, até hoje, saber que ele, durante o período em que já estávamos juntos, e dizia que me amava, transava com a ex-mulher.


Houve coisas, Fabrício, de uma crueldade fenomenal. Ele, por exemplo, viajou com a ex-mulher num feriado. Mas ficava me mandando mensagens de amor no celular! Eu sofrendo como uma camela, chorando desesperadamente, e ele me mandando mensagens.


Eu não aceito isso, não sei se vou aceitar, e misturo todas essas coisas numa enorme confusão que me pesa no pensamento o tempo inteiro. Em resumo, não tenho paz!


Um abraço,


Silvia"



Olá, Sílvia!


Revolto-me com mães que utilizam os filhos como escudo para atrair seu marido de volta ou culpar a separação. Que abusam da inocência das crianças para gerar ressentimento. Que não são capazes de separar a maternidade da filiação, a paternidade da responsabilidade com os filhos.


Vamos por partes, com calma.


Apaixonou-se enquanto ele era casado, houve erro no início do relacionamento, mas não significa que roubou o marido de ninguém. Ele se deu a você. Ele permitiu que você entrasse na identidade dele. A sedução e a escolha foram mútuas.


Portanto, ele deve defendê-la de toda e qualquer rejeição.Não lamentar apenas as cisões, e sim mostrar aos filhos quem é a sua nova mulher, abrir espaço, salvaguardá-la das ofensas. As atitudes se tornam palavras, não o contrário.


Posso garantir: não destruiu a família dele, ampliou a família. Existem suas crianças e as crianças dele. É uma nova relação de força e aproximação.


Se os amigos se afastam, ele também precisa se afastar dos amigos e não ir a compromissos que excluam o casal. Isso é ultrajante. Afinal, formam um casal hoje e merecem - ao menos - um voto de confiança e a possibilidade de convivência. Ele não pode ser compreensivo e tolerante com as censuras, porém determinado e taxativo.


Indigno é alguém que não luta por seu amor, mesmo que as circunstâncias sejam desfavoráveis.


É natural que se veja sufocada de culpa. Está asfixiada de cobranças, sem encontrar saída para escoar as virtudes. Sofre de uma desvalia permanente, um sentimento derrotista de isolamento. A confusão não lhe dará paz, porque percebo que ele colabora, ainda que involuntariamente, em embaralhar o sentido de sua convicção.


Não é ele que está empregando o pretexto dos filhos para não sair de perto da ex-mulher? Faço uma pergunta apenas. Tente mudar o ponto de vista. Sendo passivo, ele não está discordando.


Será que o constrangimento não parte do seu marido? Não pode viajar com a ex depois de tudo o que aconteceu como se fosse natural. Nenhuma mensagem de amor vai recompensar o futuro ou abafar as vozes dos demônios do passado.


Pense bem: quando você se apaixonou, apaixonou-se pela vida que ele tinha, pelo ideal de família? Caso a resposta seja afirmativa, cuidado. A vida que ele tinha não existe com você. Terão que criar uma outra vida juntos.


Envie carta com suas dúvidas de relacionamento para carpinejar@terra.com.br

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