quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

10/2/2005 09:37:56 AM

AMADO PELAS SOGRAS

Pintura de Wayne Thiebaud


Fabrício Carpinejar





Meus amores não eram simples. Atração à primeira vista, comigo feio, não havia como acontecer. Eu tinha a missão de acabar com a primeira impressão. Destruir os contatos iniciais. Precisava de tempo para mostrar que a inteligência podia ser mais agradável do que a beleza.


Sofria por antecipação. Não poderia deixar a mulher ir no toalete, mas também não queria me amarrar numa camela. O que restava? Rezar sem denunciar o sinal da cruz. No momento em que a mulher saía para conversar com a amiga no banheiro, lamentava: "Pronto, estou destruído". É óbvio que a amiga abriria o olho e falaria horrores de mim. Conseguir a aprovação de uma única mulher numa noite é difícil, imagina de duas? O que as mulheres cochicham no banheiro são decisões francas e impiedosas.


Para levar um amor a casa dependia de longas conversas e persuasão, sedução e carisma. Nada acontecia de cara, no ato, por atração. Minha vida não se resolvia no primeiro tempo. Nem no segundo. Talvez no jogo de volta, com o apoio da torcida.


Já levei muito fora, dei muita mancada, pisei na bola. O que mais me dificultava nos relacionamentos adolescentes era a facilidade tremenda em conquistar a mãe da mulher com quem desejava ficar. Conquistava a sogra, não sua filha. Surgia como o par ideal da família, nunca de quem gostava. Representava o tipo cordial, educado e romântico, que não falaria palavrão em público, nem chamaria todo mundo de "cara" independente do sexo, capaz de colocar o guardanapo nos joelhos e acertar o uso dos talheres. Ou seja, o tipo mais inofensivo que existe, forjado à paz e inadequado para a guerra. É óbvio que isso somente aumentava a minha rejeição. O que uma mulher deseja na adolescência é alguém que se oponha justamente aos pais. A sogra me recebia com estardalhaço, preparava almoço ou jantar, puxava assunto. Se sua filha dizia que não queria me atender, passava o telefone a fórceps.


O pior consistia em superar os elogios sem pudor (o que significava constrangimentos extremos). Nada é mais agressivo do que um elogio exagerado e falso. Certa vez a mãe de uma candidata, não encontrando o que comentar depois de falar da chuva e da escola, elogiou minhas meias e me obrigou a levantar a bainha. "Mostra para ela, mostra". Eu me senti um stripper, motivado por uivos e com notas na tanga. Ao expor minhas canelas finas e tortas, a relação morreu ali.


Sem contar a figura paterna, que contava histórias infindáveis e detalhistas de pescaria, me induzia a espetar o coraçãozinho e rir ao mesmo tempo, a entender de política e negócios e da cotação da bolsa de valores (uma contradição, já que entendia apenas de mesada e recolher trocos de uma bolsa a outra da minha mãe). Desagradava-me também o fato de que poderia me tornar simpático apenas sussurrando sim diante da maioria dos assuntos desconhecidos.


Quanto mais os pais gostavam de mim mais o sonho de um namoro se distanciava. Eu terminava abandonado na primeira semana, longe de resultados efetivos. Fazia eternamente sala e não chegava à cama.


Sabia exatamente quando a relação começava a definhar. Na hora em que a sogra me reconhecia como seu filho. A partir deste instante, seria impossível casar, transar ou ficar com uma irmã.

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