DIÁRIO DE UM APAIXONADO IV
Sintomas de um bem incurável
Pintura de Sigmar Polke
Fabrício Carpinejar
O apaixonado não deixa seu par terminar de falar. Ele interrompe e vive pedindo desculpas.
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Quer agradar a qualquer custo. Pode inclusive negar sua personalidade para convencer. O problema é que a mulher pode se apaixonar por outro que não é ele. Das duas uma: ele será obrigado a assumir o papel a vida inteira ou será desmascarado ao assistir futebol.
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O apaixonado cisca o prato em jantares românticos, não põe uma vírgula na boca. Aliás, por que os apaixonados saem para jantar se não comem nada? Eles passam a imagem de educados e contidos na hora para assaltar a geladeira de madrugada.
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O apaixonado esperando no cinema ou no bar queima como um incenso. Não há como disfarçar seu perfume exagerado.
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Quando o apaixonado diz uma frase de efeito, repete duas ou três vezes até provocar impacto (ou tédio).
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O estômago pode ficar embrulhado, mas ele não tem direito a ir no banheiro. Todo apaixonado sofre de prisão de ventre.
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O apaixonado é o maior fazedor de escândalos que existe. Cobra o que ainda nem começou.
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A paixão - platônica ou não - prova que a realidade não faz a menor diferença.
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O apaixonado infantiliza a linguagem, carrega no diminutivo, dá apelidos ridículos e usa expressões de casa de bonecas.
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Ciúme é charme para o apaixonado. Depois de casado, é doença.
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O apaixonado jamais usa pijama para dormir.
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Calcinha cor de pele está fora de cogitação. É reencontrar a avó entre as pernas.
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O apaixonado gagueja quando tenta consertar uma grosseria.
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O apaixonado só gosta de reprises.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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