quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

9/7/2006 07:56:12 PM

POESIA


Sou o entrevistado do "Gaveta do Autor", edição setembro. Confira meu bate-papo abaixo e a matéria no site.


Como oxigenar a poesia, sempre tão asfixiada por clichês e rimas fáceis?

Mergulhar fundo na linguagem, não se importando se vai faltar ar lá embaixo. Henri Michaux diz que a alma não voa, a alma nada. Concordo com ele.

O poeta não pode se sentir dono de uma voz. Ela mais será dele quando mais lhe faltar. O erro é a casa da verdade. Subverter o lugar-comum, sair do jogo, do trocadilho, do jogral. Falar só quando se tem necessidade, quando é impossível adiar. A verdade não é um hábito como a mentira, a verdade rompe hábitos. O poeta é a instabilidade cardíaca. Concorda para discordar logo em seguida. Não conheço nenhum poeta aposentado. Ou se é para trabalhar toda a vida ou nunca foi.


O que existe entre um verso e outro?

O poema perfeito, que não foi lido, porque estava apressado em escrever o meu.


Por que o poeta foge da prosa?

Por educação, para não contaminar. A poesia costuma bagunçar, anarquizar a linguagem. O poeta não sabe escrever sentado. Escreve de pé, para não ser enterrado. Ele quer comunicar de cara o ruído, o espanto, o relâmpago. Ele é ansioso por vocação. Escreve com os ouvidos. Sua audição é de socos.


Que tipo de bem fazem prêmios e honrarias aos escritores?

Cartas dos leitores. Sinceridade e comoção. Conseguir uma tal identificação, que o leitor esquece o meu nome e toma aquilo que foi escrito como seu. Ser esquecido é o maior prêmio que um autor pode alcançar.


Que tipo de prazer é o ofício do escrever?

O de gargalhar. Não o riso cínico, o riso enviesado, o riso contido. Mas o riso que joga o corpo para frente, que nos põe caminhar. Enquanto dois dedos batucam, os outros oito já são platéia.

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