quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

9/20/2004 10:57:53 AM

OUTRAS DUAS MULHERES

Gravura de Paula Modersohn-Becker


Fabrício Carpinejar





VI. Ela não tomava banho de sol, mas banho de escuro. Pele branca, como uma praia ainda desabitada. Não fingia prazer, se arremessava para onde não havia voz no corpo. Os cabelos escorregavam até os mamilos. Encostava os lábios em sua pele para recordar de onde já esteve. Pressionava as coxas para aumentar o segredo. Fechava os olhos para acariciar os seios de um jeito que somente ela conhecia e dava conta. A mão era uma chave sem cópia para oferecer ao amante. Ela costumava rir de seus pensamentos tolos. Mas não trocava a tolice por nenhuma seriedade. Gostava apenas do primeiro copo de chope da noite ou do último cálice de vinho da noite. Dizia que em ambos não sofreria de ressaca. Seus olhos tinham aquela espuma que fica nas roupas depois da luz.


VII.


Ela odiava quando a perguntavam o que estava pensando. Ela não pensava em nada e precisava encontrar uma explicação para estar parada. Desde quando não fazer nada depende de um motivo, senão seria fazer alguma coisa. Pensava que essa pergunta acontece pela falta de assunto. Ou o medo da falta de assunto. Que o homem questiona o que ela está pensando, porque no fundo pressente que ela não está pensando nele. Infelizmente o homem não descobriu que não é o principal assunto do dia. Não pensar em nada a fazia ficar ainda mais pensativa. Misteriosa e serena, diferente da submissão que apresentava ao falar. Pensar em nada dava a idéia de que não voltaria para a casa cedo. Ela admirava sua beleza sem propósitos.

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